Dá para dizer que pelo menos há duas coisas em que a
produção gaúcha “Os senhores da guerra” (2014) acertou: o bom senso de
marketing por lançar o filme em questão na semana farroupilha e o competente
trabalho de Kapel Furman nos efeitos especiais (com destaque para a parte “gore”
da coisa – vísceras e sangue proliferam de forma convincente). Fora esses dois
aspectos, a obra dirigida por Tabajara Ruas naufraga da maneira clamorosa,
principalmente pelos mesmos equívocos que vêm marcando esse gênero do drama de
época regionalista gaúcho, em que o simples fato de ter como pano de fundo
eventos históricos importantes procura mascarar uma falta de apuro na encenação
e na dinâmica da narrativa (vide outros trabalhos falhados nesse linha como as
adaptações cinematográficas recentes dos clássicos literários “Contos
gauchescos” e “O tempo e o vento”). Não há uma fluência dramática no
desenvolvimento de personagens e situações que os tornem críveis ou cativantes.
Assim, o elenco interage e profere seus diálogos de maneira artificial e
empostada, beirando um didatismo e mecanicidade que faz lembrar uma teatralização
de terceira de um programa televisivo educativo estilo “telecurso 2º grau”. Ou
seja, pode funcionar até numa sala de aula, mas como cinema está muito longe de
convencer. Além disso, o roteiro peca demais na forma como personagens entram e
saem da narrativa sem maiores explicações ou aprofundamento, sugerindo que
algumas cenas devem ter ficado de fora na montagem e o que sobrou acabou mal
costurado. Esse tom meio apressado na concepção da trama também fica evidente
nas sequências de batalha (que deveriam ser o ápice existencial do filme), não
havendo uma coreografia de impacto nas sequências de lutas e tiroteios,
prevalecendo uma edição que picota a ação de uma maneira que parece querer
esconder uma certa precariedade na encenação. A direção de fotografia é anódina
dentro do seu estilo cartão postal, enquanto a trilha sonora envereda por uma
obviedade em suas milongas de letras e melodias pouco marcantes. Diante de
todas essas soluções artísticas nada inspiradas de “Os senhores da guerra”,
mesmo boas ideias como a do texto em forma de poesia de um narrador/declamador,
sugerindo uma espécie de síntese formal entre literatura e cinema, acaba se
revelando apenas um recurso estético cansativo e sem força. Em um ano como
esse, em que outras produções gaúchas (“Ponto zero”, “Errantes”, “Nós duas
descendo a escada”) apareceram em nossas salas de cinema mostrando caminhos
narrativos mais inquietantes e criativos, um filme como “Os senhores da guerra”,
de linguagem cinematográfica tão mofada e destituída de vigor, acaba destinado
a uma espécie de limbo de trabalhos inexpressivos.
Um comentário:
Assisti na época que foi exibido em Gramado. Não é como Neto Perdeu a sua alma, mas dá para o gasto
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