quarta-feira, outubro 26, 2016

Kóblic, de Sebastián Borensztein ***

O diretor argentino Sebastián Borensztein dá a impressão de querer realizar uma revitalização de clichês de filmes de gênero. No medíocre “Um conto chinês” (2011), fez uma espécie de recriação pálida de comédia romântica, ainda que procurasse dar uma aparência ilusória de realismo dramático. Em sua mais recente empreitada, “Kóblic” (2016), o cineasta busca uma espécie de síntese entre drama político e policial, mas o que realmente atinge como resultado final é um faroeste reciclado e por vezes até bem divertido. O roteiro insinua uma pretensa seriedade ao evocar o drama de desaparecidos políticos que na verdade eram jogados ao mar por agentes da repressão no período da ditadura militar argentina nos anos 70 e 80. Mas essa aura solene é jogada por terra diante dos furos da trama – se o protagonista Kóblic (Ricardo Darín) quer tanto ficar incógnito numa cidadezinha fim de mundo do interior, por que se expõe tanto saindo para beber no único bordel da região e também tendo um caso com a companheira de um tipinho violento e execrável? Isso sem contar que em algumas sequências o filme se perde em excessos melodramáticos, principalmente nas partes românticas. Na verdade, a melhor forma de encarar “Kóblic” é como se fosse um tipo de versão fuleira para “Os brutos também amam” (1953). A caracterização do delegado vilão Velarde (Oscar Martinez), por exemplo, é um primor de escrotidão e sordidez. E o terço final repleto de duelos e mortes encenados com boa dinâmica e detalhamento visual é bem memorável. Em tais cenas, Borensztein consegue dar uma certa ambientação mitológica cativante para a sua obra, e com Darín conseguindo tendo uma interessante altivez icônica para o seu personagem que faz lembrar algo do enigmático cowboy Shane.

Um comentário:

Marcelo Castro Moraes disse...

Não posso dizer muito desse porque eu não assisti ainda, mas não achei esse horror que você achou de Um conto chinês não.