O cineasta espanhol Fernando León de Aranoa havia
demonstrado notável domínio narrativo e sensibilidade no trato de temática
social no extraordinário “Segunda-feira ao sol” (2001). Ainda que sem o mesmo
grau de brilho artístico do filme mencionado, “Um dia perfeito” (2015) mostra que
Aranoa permanece com suas mencionadas qualidades. O tema da trama é espinhoso –
o cotidiano de um grupo de ajuda humanitária no conflito dos Bálcãs em meados
dos anos 90. Ocorre que a abordagem é diferenciada e surpreendente, pois, ainda
que preserve a forte aura dramática, há uma certa atmosfera de ironia e absurdo
que predomina sutilmente por todo o filme, fazendo lembrar de leve a clássica
comédia de guerra “MASH” (1970). Tal orientação existencial da narrativa revela
uma coerência pertinente, em que as desventuras sentimentais do responsável de
segurança Mambrú (Benicio Del Toro) e a obsessão por velocidade, perigo e rock
and roll do motorista B (Tim Robbins) funcionam como válvulas de escape
emocionais diante de uma rotina repleta de morte, destruição e barbárie de um
conflito étnico-político. O subtexto do roteiro guarda ainda uma crítica ao
olhar hipócrita e moralista que o mundo ocidental tem sobre a guerra naquela
região, em que alegações e julgamentos de que tais lutas e demais atitudes
delas advindas sejam “sem sentido” se revelam estéreis, pois na verdade os
reflexos de tal conflito apenas demonstram valores e dilemas típicos da
sociedade capitalista contemporânea. No mais, a notável interação entre o
elenco homogêneo em boas atuações e a ótima trilha sonora roqueira se mostram
em sintonia com as soluções narrativas e temáticas de Aranoa, fazendo de “Um
dia perfeito” uma inquietante obra a refletir sobre a natureza das guerras no
mundo atual.
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