Dentro de uma temática já bastante abordada por outras
produções cinematográficas, a das dificuldades da velhice, “A viagem de meu pai”
(2015) não chega a ser uma obra-prima, mas ainda assim consegue apresentar
algumas surpresas positivas capazes de gerar inquietação para o espectador. A
maior delas é a forma com que o diretor Philippe Le Guay formata a sua
narrativa, que se desenvolve a partir de uma relação com a própria dinâmica do
processo gradual de senilidade do protagonista Claude Lherminier (Jean
Rochefort). Assim, as noções de tempo e realidade vão se tornando cada vez mais
difusas com o avançar da trama, ainda que a encenação evoque um tom
naturalista, fazendo com que fatos corriqueiros do cotidiano convivam em uma
estranha harmonia com toques oníricos e por vezes delirantes. É mérito também
do filme em manter uma atmosfera de sobriedade emocional, em que situações melancólicas
e mesmo cruéis não são expostas com obviedades sentimentais, prevalecendo uma
certa crueza existencial e se permitindo até em alguns momentos uma dose de
ironia. Claude não é retratado de forma simplista como uma mera vítima de sua
condição como idoso – os percalços pelos quais ele e sua família passam ganham
uma condição de inevitabilidade do destino, sugerindo-se ainda como
consequências de atos praticados pelo protagonista quando mais jovem e de seu
próprio e inato temperamento orgulhoso. Dentro dessa proposta de Le Guay, a
atuação de Rochefort ganha especial ressonância, pois sua interpretação é
repleta de notáveis nuances dramáticas e cômicas.
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