A filmografia de Julie Delpy como diretora parece girar
dentro de uma fórmula narrativa simples – crônicas familiares que além da
reflexão sobre as relações pessoais também apresentam um subtexto
sócio-político. Dentro desse conceito artístico, o ponto alto da carreira da
cineasta é o extraordinário “O verão do Skylab” (2011). “Lolo: O filho da minha
namorada” (2015) não apresenta o mesmo nível de qualidade, mas ainda assim tem
os seus pontos inquietantes. Num primeiro momento, o espectador se sente
envolvido pelos eficientes truques cômicos relacionados aos planos perversos do
jovem Lolo (Vincent Lacoste) para acabar com o namoro de sua mãe, a cosmopolita
Violette (Delpy), com o ingênuo interiorano Jean-René (Dany Boon), rendendo
algumas divertidas cenas que envolvem um humor físico que beira o pastelão e o
escatológico. Numa visão mais atenta da trama e mesmo da encenação concebida
por Delpy, entretanto, pode-se perceber algo de sombrio e irônico em detalhes
como a caracterização psicótica de Lolo, a violência física e psicológica de
algumas das “brincadeiras” do personagem-título e as sutis ironias que se fazem
em determinadas situações do roteiro que envolvem questões de classe e a atual
situação econômica da Europa. De se considerar também a crueza de alguns
diálogos a expor a sexualidades e as seguranças existenciais de uma mulher
adulta na sociedade contemporânea. Ainda que o final feliz agridoce do filme
represente uma espécie de concessão típica de uma comédia romântica, “Lolo”
reforça a impressão de que Delpy possui um traço autoral na forma com que
elabora suas narrativas cinematográficas.
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