quinta-feira, novembro 03, 2016

Lolo: O filho da minha namorada, de Julie Delpy ***

A filmografia de Julie Delpy como diretora parece girar dentro de uma fórmula narrativa simples – crônicas familiares que além da reflexão sobre as relações pessoais também apresentam um subtexto sócio-político. Dentro desse conceito artístico, o ponto alto da carreira da cineasta é o extraordinário “O verão do Skylab” (2011). “Lolo: O filho da minha namorada” (2015) não apresenta o mesmo nível de qualidade, mas ainda assim tem os seus pontos inquietantes. Num primeiro momento, o espectador se sente envolvido pelos eficientes truques cômicos relacionados aos planos perversos do jovem Lolo (Vincent Lacoste) para acabar com o namoro de sua mãe, a cosmopolita Violette (Delpy), com o ingênuo interiorano Jean-René (Dany Boon), rendendo algumas divertidas cenas que envolvem um humor físico que beira o pastelão e o escatológico. Numa visão mais atenta da trama e mesmo da encenação concebida por Delpy, entretanto, pode-se perceber algo de sombrio e irônico em detalhes como a caracterização psicótica de Lolo, a violência física e psicológica de algumas das “brincadeiras” do personagem-título e as sutis ironias que se fazem em determinadas situações do roteiro que envolvem questões de classe e a atual situação econômica da Europa. De se considerar também a crueza de alguns diálogos a expor a sexualidades e as seguranças existenciais de uma mulher adulta na sociedade contemporânea. Ainda que o final feliz agridoce do filme represente uma espécie de concessão típica de uma comédia romântica, “Lolo” reforça a impressão de que Delpy possui um traço autoral na forma com que elabora suas narrativas cinematográficas.

Nenhum comentário: