quinta-feira, novembro 10, 2016

O pecado de Hadewijch, de Bruno Dumont ***1/2

A filmografia do diretor francês Bruno Dumont é baseada numa síntese bastante particular de preceitos artísticos e existenciais que remetem a cineastas como Roberto Rossellini e Robert Bresson. Assim, seus filmes abarcam uma estranha combinação de conto moral e formalismo rigoroso e ascético, em que a exposição do mal estar e inquietações ético-religiosas da sociedade ocidental contemporânea vem acompanhada de uma linguagem estética contida e distanciada na configuração de seu modus operandi. “O pequeno Quinquin” (2014) é a representação mais expressiva das concepções insólitas de Dumont, mas “O pecado de Hadewijch” (2009) mostra que esse estilo já estava cada vez mais delineado em suas nuances de sensibilidade e esquisitice. A trajetória da protagonista Céline (Julie Sokolowski) em busca de redenção espiritual e de uma aproximação mais íntima com uma divindade superior é esmiuçada numa narrativa seca e sem concessões, em que elementos como a ironia e a sensualidade se manifestam com discrição perversa. No meio dessa jornada intimista, Dumont estabelece uma sutil amostragem sócio-cultural da Europa desse século, principalmente em questões conflitantes e contraditórias como o preconceito racial e o fanatismo religioso.

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