A filmografia do diretor francês Bruno Dumont é baseada numa
síntese bastante particular de preceitos artísticos e existenciais que remetem
a cineastas como Roberto Rossellini e Robert Bresson. Assim, seus filmes
abarcam uma estranha combinação de conto moral e formalismo rigoroso e
ascético, em que a exposição do mal estar e inquietações ético-religiosas da
sociedade ocidental contemporânea vem acompanhada de uma linguagem estética
contida e distanciada na configuração de seu modus operandi. “O pequeno
Quinquin” (2014) é a representação mais expressiva das concepções insólitas de
Dumont, mas “O pecado de Hadewijch” (2009) mostra que esse estilo já estava
cada vez mais delineado em suas nuances de sensibilidade e esquisitice. A
trajetória da protagonista Céline (Julie Sokolowski) em busca de redenção
espiritual e de uma aproximação mais íntima com uma divindade superior é
esmiuçada numa narrativa seca e sem concessões, em que elementos como a ironia
e a sensualidade se manifestam com discrição perversa. No meio dessa jornada
intimista, Dumont estabelece uma sutil amostragem sócio-cultural da Europa
desse século, principalmente em questões conflitantes e contraditórias como o
preconceito racial e o fanatismo religioso.
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