Quando se fala na fase norte-americana da carreira do cineasta tcheco Milos Forman, logo vem à mente filme antológicos como “Um estranho no ninho” (1975), “O povo contra Larry Flynt” (1996) e “O mundo de Andy” (1999). Pouco se comenta, entretanto, sobre sua produção de estreia nos Estados Unidos, “Busca insaciável” (1971), o que é uma grande injustiça, pois se trata de uma obra que está, no mínimo, no mesmo nível artístico dos trabalhos mencionados. A formatação narrativa mantem muito da original abordagem de linguagem cinematográfica que Forman praticava em alguns de seus filmes mais marcantes realizados em seu país natal como “Os amores de uma loira” (1965) e “O baile dos bombeiros” (1967) – é de se reparar, por exemplo, que a sequência inicial de “Busca insaciável” em que vários jovens, num inventivo truque de edição, cantam a mesma música é semelhante à da jovem que canta ao violão na abertura de “Os amores de uma loira”. Assim, a visão de ironia ácida de Forman sobre os hipócritas valores sócio-culturais da sociedade norte-americana da época (e que se mantém até hoje, vide a recente eleição de Donald Trump) vem embalada por um sofisticado formalismo que combina uma direção de fotografia seca e objetiva e uma edição de cortes insólitos. A contundência de tal estética se alia a uma esquisita e sardônica atmosfera de distanciamento emocional, gerando um efeito desconcertante para o espectador – a aparente frieza da encenação esconde uma grande tiração de sarro do reacionarismo e visão obtusa do americano norte-americano médio. Nesse sentido, é particularmente brilhante a sequência em que respeitáveis pais de família fumam maconha num evento social para tentar entender os motivos dos filhos terem fugido de casa. No mais, é curiosa como essa reflexão sobre o período do flower power acaba se relacionando com outro filme de Forman que versava sobre temática semelhante, o musical “Hair” (1979), formando um expressivo e amargo panorama sobre a contracultura.
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