segunda-feira, novembro 28, 2016

Snowden - Herói ou traidor?, de Oliver Stone ***1/2

Parte significativa da filmografia do diretor norte-americano Oliver Stone é dedicada a fazer uma espécie de inventário sócio-político-cultural da história do seu país. Dentro desse nicho, seu maior acerto artístico foi “JFK” (1991), que apresentava uma combinação notável entre narrativa dinâmica e envolvente e um conteúdo aprofundado e inquietante sobre a temática que versava. Essa síntese também é o grande mérito de “Snowden – Herói ou traidor” (2016), obra mais recente de Stone, que foca a história do ex-agente da CIA que denunciou os mecanismos de espionagem virtual praticada pelos Estados Unidos. Ainda que o filme se renda a alguns convencionalismos narrativos, a noção de ação cinematográfica é muito bem trabalhada, vide a edição que incorpora com naturalidade e coerência efeitos digitais a simularem o mundo da virtualidade e a encenação vigorosa e bem coreografada que extrai uma tensão perturbadora nas sequências mais cruciais em termos dramáticos. O roteiro apresenta um certo traço panfletário, o que fica evidente na caracterização maniqueísta de personagens e situações, mas ao mesmo tempo sabe valorizar a complexidade dos dilemas morais e contradições de seu protagonista, além de mostrar detalhes das operações políticas e de segurança do governo norte-americano que geralmente são tratadas com superficialidade na mídia “oficial”. Para falar a verdade, é até provável que a falta de escrúpulos da CIA e do NSA a investigarem indevidamente cidadãos nativos e governos estrangeiros seja muito mais acentuada e cruel na realidade do que na simulação de uma obra para o cinema. E ainda que tais fatos retratados no filme sejam ainda relativamente recentes, a abordagem de Stone traz um traço atemporal ao deixar evidente mais um dos métodos da permanente opressão de governos e grandes corporações sobre os indivíduos.

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