Transpor o universo literário do escritor Philip Roth para o
cinema é uma tarefa penosa. A produção norte-americana “Indignação” (2016) é um
exemplo enfático de tal dificuldade. Estão lá na trama as habituais obsessões
temáticas-existenciais do autor – o questionamento dos valores éticos e morais
da sociedade norte-americana, a exposição dos preconceitos raciais e sociais,
os tormentos sexuais de personagens complexos. O problema é que tais temas são
trabalhados de forma artificial e solene tanto pelo roteiro quanto pela
encenação, retirando, dessa forma, a verve e a ironia com que Roth costuma
tratar esse material em seus romances. A linguagem literária também não consegue
se consolidar em outro tipo de narrativa – a descrição oral em primeira pessoa
do protagonista Marcus Messner (Logan Lerman) é excessiva e afetada, roubando
um espaço essencial que deveria ser ocupada pela concepção imagética do filme.
Assim, falta sutileza e uma efetiva profundidade na forma com que personagens e
situações são desenvolvidos. Ainda que a fotografia e a direção de arte
demonstrem alguma beleza visual na sua reconstituição dos anos 50 e a atuação
de Olivia Hutton apresente um interessante encanto, “Indignação” tem um
resultado final falho na sua proposta de dissecação sensorial das hipocrisias
arraigadas dos Estados Unidos devido a uma abordagem estética e textual que
carece de força e ousadia.
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