quarta-feira, novembro 16, 2016

Indignação, de James Schamus **1/2

Transpor o universo literário do escritor Philip Roth para o cinema é uma tarefa penosa. A produção norte-americana “Indignação” (2016) é um exemplo enfático de tal dificuldade. Estão lá na trama as habituais obsessões temáticas-existenciais do autor – o questionamento dos valores éticos e morais da sociedade norte-americana, a exposição dos preconceitos raciais e sociais, os tormentos sexuais de personagens complexos. O problema é que tais temas são trabalhados de forma artificial e solene tanto pelo roteiro quanto pela encenação, retirando, dessa forma, a verve e a ironia com que Roth costuma tratar esse material em seus romances. A linguagem literária também não consegue se consolidar em outro tipo de narrativa – a descrição oral em primeira pessoa do protagonista Marcus Messner (Logan Lerman) é excessiva e afetada, roubando um espaço essencial que deveria ser ocupada pela concepção imagética do filme. Assim, falta sutileza e uma efetiva profundidade na forma com que personagens e situações são desenvolvidos. Ainda que a fotografia e a direção de arte demonstrem alguma beleza visual na sua reconstituição dos anos 50 e a atuação de Olivia Hutton apresente um interessante encanto, “Indignação” tem um resultado final falho na sua proposta de dissecação sensorial das hipocrisias arraigadas dos Estados Unidos devido a uma abordagem estética e textual que carece de força e ousadia.

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