A premissa básica do argumento de “Menino 23: Infâncias
perdidas no Brasil” (2016) pode fazer pensar até numa obra de cunho ficcional
beirando o fantástico: nos anos 30, garotos negros órfãos são levados do Rio de
Janeiro para uma grande fazenda do interior de São Paulo de propriedade de
simpatizantes do integralismo e do nazismo e lá são submetidos a condições de
escravidão. Ocorre, entretanto, que o filme dirigido por Belisário Franca é um
documentário, ou seja, mostra fatos que realmente aconteceram, o que torna tudo
ainda mais assustador e revoltante. A abordagem formal de Franca é simples e
direta, utilizando depoimentos recentes, encenação discreta e registros
audiovisuais de arquivo. A partir de tal recursos, o diretor consegue obter uma
síntese narrativa eficiente e de impacto, conciliando de maneira precisa o
aspecto histórico/didático, ao mostrar o contexto sócio-político do racismo
naquele período, com o fator intimista/dramático, dando a palavra a dois homens
que fizeram parte de tal “experimento” nefasto. A partir desse conjunto
estético-temático, “Menino 23” traça um perfil complexo e contundente da
trajetória do preconceito racial no Brasil, mostrando também como tal questão
está intrinsecamente ligada aos mecanismos de opressão para perpetuação no
poder de uma oligarquia econômica, evidenciando uma sintonia, dessa forma, com
alguns fatos bem recentes da história do nosso país.
Boa parte de amigos e conhecidos costuma dizer que as minhas recomendações para filmes funcionam ao contrário: quando eu digo que o filme é bom é porque na realidade ele é uma bomba, e vice-versa. Aí a explicação para o nome do blog... A minha intenção nesse espaço é falar sobre qualquer tipo de filme: bons e ruins, novos ou antigos, blockbusters ou obscuridades. Cotações: 0 a 4 estrelas.
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