A descrição de “O contador” (2016) como uma espécie de cruza
picareta entre a “Bourne” com “Gênio indomável” (1997) pode parecer um exagero
jocoso, mas também não deixa de ter a sua pertinência. Ou seja, pelo menos em
termos de premissa de trama, a produção em questão não passa de uma bobagem
escapista. Sorte que o diretor Gavin O’Connor, o mesmo do excelente “Guerreiro”
(2011), consegue oferecer um senso narrativo envolvente e faz com que o roteiro
sobre um contador autista com apurado treinamento militar que desvenda e
destrói uma conspiração corporativa consiga gerar alguma tensão e interesse
para o espectador. As cenas de ação envolvendo lutas e tiroteios são
coreografadas com clareza e filmadas com uma fotografia elegante. Esse
formalismo concebido por Gavin O’Connor é até previsível, entretanto é
executado com precisão e convicção. Até a habitual inexpressividade de Ben Affleck
consegue ser aproveitada dramaticamente tendo em vista o distúrbio do
protagonista. E é interessante também notar que mesmo uma história repleta de
inverossimilhanças como a apresentada no filme revela um subtexto um tanto
nebuloso, na forma com que a lei e seus respectivos agentes (policiais,
políticos e afins) são retratados como ineficientes na busca de justiça, e
reforçando a necessidade de indivíduo suprir tais “lacunas” com iniciativas
próprias truculentas. Os fãs da barbárie de toga no Brasil provavelmente vão se
identificar...
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