Assim como já tinha feito em “Era uma vez em Nova Iorque”
(2013), o diretor norte-americano James Gray recria o gênero do “filme de época”
sob uma perspectiva bastante particular e preciosista em “Z – A cidade perdida”
(2016). Com uma trama baseada em fatos reais, não há um foco principal
concentrado na reconstituição de fatos históricos, mas sim numa narrativa que
se situa entre o classicismo e o atmosférico, evocando um insólito encontro
entre David Lean e Werner Herzog. Quando a história fica localizada na parte “civilizada”
da Inglaterra, encenação, fotografia e direção formam um conjunto estético que
tanto se vincula à linguagem naturalista quanto a uma estilização de beleza
visual desconcertante. Aliás, pode-se dizer que os quinze minutos iniciais de “Z”
traz uma das mais ácidas dissecações sobre a questão do preconceito classes na sociedade
ocidental já apresentadas no cinema. Quando a ação se volta para a selva
amazônica, formalismo e narrativa ganham uma conotação de sutil viés delirante,
focando na clássica dicotomia entre o jogo de atração e repulsa do homem
ocidental frente a uma natureza misteriosa, bela e perigosa, na tradição de
obras épicas que alternam com admirável naturalidade a tensa aventura “física”
e a viagem existencial – nesse sentido, por vezes a sofisticada e intrigante
concepção artística de Gray para “Z” faz lembrar a obra-prima “conradiana” “Apocalypse
Now” (1979).
Nenhum comentário:
Postar um comentário