Os filmes do diretor André Techiné geralmente parecem
se configurar como sóbrios contos morais. A grande questão, entretanto, é que
essa moral obedece a uma lógica ambígua e particular. “Rendez-vous” (1985) é um
exemplar enfático dessa tendência do cineasta francês. Como principal mote
aparente de sua trama, desenvolve-se um conturbado triângulo amoroso em meio ao
cenário artístico parisiense. Só que um dos vértices de tal relacionamento é de
um atormentado ator que morre logo no terço inicial do filme. Nesse sentido, a
narrativa concebida por Techiné vai se equilibrando numa tênue linha entre uma
ambientação naturalista e uma atmosfera fantástica, como se a convivência entre
esses dois planos beirasse o prosaico. Por trás da estranheza dessa história há
ainda um subtexto sutil sobre a natureza da arte – a forma com que a
protagonista Nina (Juliett Binoche) amadurece entre os descaminhos de sua vida
amorosa também serve como substrato da autodescoberta de suas potencialidades
como atriz. As evidentes implicações psicológicas e simbólicas do roteiro
recebem um tratamento formal misto de rigor e fluidez por parte de Techiné,
centrando grande força no vigor de sua encenação e na estética precisa da fotografia
e edição.
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