Em alguns posts que escrevi neste blog falando sobre filmes
que adaptavam o universo das HQs de super-heróis para as telas, foi mencionada
a necessidade das obras do gênero em questão em procurar preservar uma certa
essência dos quadrinhos originais nessa transposição de uma mídia para outra
visando resgatar aquilo que personagens e histórias dos “comics” têm de
interessante e peculiar que justificam a sua perenidade. Pois “Thor: Ragnarok”
(2017) acaba sendo um desmentido enfático dessa tese! O diretor neozelandês
Taika Waititi pega figuras, conceitos e outros elementos diversos do clássico
universo da Marvel e os recria num contexto diferente e algo delirante, mas
sempre transparecendo uma coerência artística-existencial desconcertante.
Tentando resumir, dá para dizer que esse novo capítulo das aventuras do mais
famoso deus de Asgard pega toda aquela solene mitologia nórdica típica do
protagonista e a enquadra numa lógica estética e temática que remete
diretamente a produções de ficção científica barata dos anos 80 (impressão essa
acentuada pela divertida e esquisita trilha sonora baseada em tecnopop
concebida por Mark Mothersbaugh, ex-integrante da banda new wave Devo), o que
coloca o filme diretamente em sintonia com a franquia de “Os guardiões da
galáxia”. Tal orientação artística, entretanto, não faz com que “Thor: Ragnarok”
caia na mera paródia, ainda que haja um considerável número de cenas e diálogos
movidos a piadinhas infames. Na narrativa, há tudo aquilo que um bom filme de
super-heróis deveria ter: cenas de ação coreografadas e encenadas com precisão
e detalhismo memoráveis, concepção visual de grafismo expressivo e criativo,
sequências com forte tensão dramática e personagens bem construídos e
carismáticos. Ou seja, uma ótima surpresa para aqueles que tinham ficado decepcionados
com a tendência para o romantismo xaroposo dos dois primeiros filmes do
personagem. Já para quem conhecia o longa anterior de Waititi, a pérola cult “O
que fazemos na sombra” (2014), excêntrica comédia a tirar um sarro dos clichês
habituais dos filmes de vampiros, acaba não sendo uma surpresa tão grande
assim, ainda que “Thor: Ragnarok” revele uma forte evolução artística por parte
de Waititi.
Um comentário:
Thor: Ragnarok é uma piada pronta do começo ao fim, mas de uma forma deliciosa ao ser degustada e muito bem vinda. Saiba mais no meu blog https://cinemacemanosluz.blogspot.com.br/2017/11/cine-dica-em-cartaz-thor-ragnarok.html
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