Ao se assistir à “Vazante” (2017), dá para entender um pouco
a polêmica que o filme de Daniela Thomas vem causando. O retrato que faz da
escravidão do Brasil no século XIX causa certo teor de perturbação por uma
abordagem emocional e histórica marcada pela sobriedade e ausência de uma
delimitação mais clara entre o “bem” e o “mal” – ou seja, não dá para dizer que
se trata de uma trama com mocinhos e bandidos. O retrato que o roteiro propõe
mostra o regime escravista entranhado na sociedade como algo normal,
corriqueiro. Na trama, as famílias de fazendeiros que possuem escravos não
apresentam uma caracterização de sádicos ou dementes racistas, mas sim de
pessoas normais, eventualmente atormentadas, que aceitam e se valem daquela
situação de exploração desumana como algo normal e aceitável no seu cotidiano.
Mesmo na ala dos escravizados predomina um teor de resignação, com eventuais
situações de revolta. Na verdade, essa visão da escravidão como algo normal e
corriqueiro é que dá a verdadeira dimensão assustadora da situação e ajuda
melhor a explicar como o racismo no Brasil apresenta todo esse contexto de
hipocrisia e crueldade na sociedade contemporânea. Voltando ao filme, também é um
acerto o trabalho minucioso de direção de arte e fotografia em preto e branco que
compõem um registro audiovisual marcado tanto pelo áspero realismo quanto por
uma beleza melancólica no seu sutil registro que vai das grandes tomadas de
paisagens naturais até enquadramentos e encenação de caráter intimista. O que
atrapalha o longa-metragem de Thomas é que no terço final da narrativa a obra
se converte num gasto melodrama envolvendo adultérios e gravidezes suspeitas que
por vezes beiram o novelesco banal, ainda que guardem um simbolismo por vezes
inquietante.
Um comentário:
Quero muito assistir mas está longe do centro de Porto Alegre. Visite o meu blog de cinema. https://cinemacemanosluz.blogspot.com.br/2017/11/cinematv-documentario-brasileiro-100.html
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