segunda-feira, novembro 13, 2017

Vazante, de Daniela Thomas ***

Ao se assistir à “Vazante” (2017), dá para entender um pouco a polêmica que o filme de Daniela Thomas vem causando. O retrato que faz da escravidão do Brasil no século XIX causa certo teor de perturbação por uma abordagem emocional e histórica marcada pela sobriedade e ausência de uma delimitação mais clara entre o “bem” e o “mal” – ou seja, não dá para dizer que se trata de uma trama com mocinhos e bandidos. O retrato que o roteiro propõe mostra o regime escravista entranhado na sociedade como algo normal, corriqueiro. Na trama, as famílias de fazendeiros que possuem escravos não apresentam uma caracterização de sádicos ou dementes racistas, mas sim de pessoas normais, eventualmente atormentadas, que aceitam e se valem daquela situação de exploração desumana como algo normal e aceitável no seu cotidiano. Mesmo na ala dos escravizados predomina um teor de resignação, com eventuais situações de revolta. Na verdade, essa visão da escravidão como algo normal e corriqueiro é que dá a verdadeira dimensão assustadora da situação e ajuda melhor a explicar como o racismo no Brasil apresenta todo esse contexto de hipocrisia e crueldade na sociedade contemporânea. Voltando ao filme, também é um acerto o trabalho minucioso de direção de arte e fotografia em preto e branco que compõem um registro audiovisual marcado tanto pelo áspero realismo quanto por uma beleza melancólica no seu sutil registro que vai das grandes tomadas de paisagens naturais até enquadramentos e encenação de caráter intimista. O que atrapalha o longa-metragem de Thomas é que no terço final da narrativa a obra se converte num gasto melodrama envolvendo adultérios e gravidezes suspeitas que por vezes beiram o novelesco banal, ainda que guardem um simbolismo por vezes inquietante.

Um comentário:

Marcelo Castro Moraes disse...

Quero muito assistir mas está longe do centro de Porto Alegre. Visite o meu blog de cinema. https://cinemacemanosluz.blogspot.com.br/2017/11/cinematv-documentario-brasileiro-100.html