Em um primeiro momento, a narrativa de “A cidade onde
envelheço” (2016) aparenta uma certa aridez que pode parecer um pouco incômoda.
Os silêncios são enfatizados com vigor, a atmosfera tem algo de documental a
partir do registro seco da lente da diretora Marília Rocha, a trama realça
aspectos de um cotidiano simples e por vezes tedioso dos personagens. São em
algumas sutilezas estéticas e nas nuances existenciais do roteiro que o filme
vai despertando um insólito encanto para o espectador. Arroubos emocionais e
viradas espetaculares na história são dispensados em nome de uma fluência
narrativa natural e serena, em que motivações e maiores explicações sobre as
atitudes das protagonistas Tereza (Elizabete Francisca Santos) e Francisca
(Francisca Manuel) dão lugar a um teor instintivo e mesmo misterioso sobre o
comportamento errático de tais figuras. A forma com que Rocha faz com que o
filme acompanhe a trajetória das personagens evidencia um olhar poético sobre
as agruras e a pequenas delícias de suas rotinas, valorizando ainda detalhes
cênicos notáveis como a intensa interação dramática entre as atrizes principais
e mesmo o sedutor sotaque português das intérpretes.
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