sexta-feira, dezembro 08, 2017

A cidade onde envelheço, de Marília Rocha ***

Em um primeiro momento, a narrativa de “A cidade onde envelheço” (2016) aparenta uma certa aridez que pode parecer um pouco incômoda. Os silêncios são enfatizados com vigor, a atmosfera tem algo de documental a partir do registro seco da lente da diretora Marília Rocha, a trama realça aspectos de um cotidiano simples e por vezes tedioso dos personagens. São em algumas sutilezas estéticas e nas nuances existenciais do roteiro que o filme vai despertando um insólito encanto para o espectador. Arroubos emocionais e viradas espetaculares na história são dispensados em nome de uma fluência narrativa natural e serena, em que motivações e maiores explicações sobre as atitudes das protagonistas Tereza (Elizabete Francisca Santos) e Francisca (Francisca Manuel) dão lugar a um teor instintivo e mesmo misterioso sobre o comportamento errático de tais figuras. A forma com que Rocha faz com que o filme acompanhe a trajetória das personagens evidencia um olhar poético sobre as agruras e a pequenas delícias de suas rotinas, valorizando ainda detalhes cênicos notáveis como a intensa interação dramática entre as atrizes principais e mesmo o sedutor sotaque português das intérpretes.

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