terça-feira, dezembro 26, 2017

Verão 1993, de Carla Simón ***

Em termos formais, “Verão 1993” (2017) não é uma obra que chega a ser especialmente original. Dentro de um conjunto temático-estético influenciado pela escola realista, entretanto, chama atenção pelo rigor e sensibilidade com que coloca os seus preceitos em prática. Ainda que a sua trama seja marcada por tópicos marcados por uma síntese entre o emotivo e o intimismo, a abordagem da diretora Carla Simón é vigorosa e objetiva, não apelando para sentimentalismos baratos. Pelo contrário – a trajetória de amadurecimento da pequena protagonista Frida (Laia Artigas) é esmiuçada com coerência e detalhismo que beiram o dialético ao expor a complexidade emocional que envolve a situação sócio-cultural da garota. Os principais episódios do roteiro envolvem perversidade infantil, a necessidade de serenidade e racionalismo por parte de adultos diante de situações limites, a influência nociva de uma moral irreal e repressora por parte de uma distorcida educação católica – Simón amarra tais elementos temáticos com precisão dentro de uma história de forte teor simbólico a retratar uma sociedade tão conservadora como a espanhola (e, por tabela, em sintonia com outras do mundo ocidental). O filme abarca tais questões dentro de uma narrativa sóbria repleta de detalhes expressivos como uma direção de fotografia que registra os exuberantes cenários naturais dentro de um olhar que preserva tanto o lado assustador das densas matas quanto o aspecto idílico dessa mesma natureza, as densas atmosferas dramáticas pontuadas por silêncios expressivos e discreto uso de temas musicais e as atuações naturalistas de seu elenco (com destaque evidente para as atrizes mirins Artigas e Paula Robles).

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