Em termos formais, “Verão 1993” (2017) não é uma obra que
chega a ser especialmente original. Dentro de um conjunto temático-estético
influenciado pela escola realista, entretanto, chama atenção pelo rigor e
sensibilidade com que coloca os seus preceitos em prática. Ainda que a sua
trama seja marcada por tópicos marcados por uma síntese entre o emotivo e o
intimismo, a abordagem da diretora Carla Simón é vigorosa e objetiva, não apelando
para sentimentalismos baratos. Pelo contrário – a trajetória de amadurecimento
da pequena protagonista Frida (Laia Artigas) é esmiuçada com coerência e
detalhismo que beiram o dialético ao expor a complexidade emocional que envolve
a situação sócio-cultural da garota. Os principais episódios do roteiro
envolvem perversidade infantil, a necessidade de serenidade e racionalismo por
parte de adultos diante de situações limites, a influência nociva de uma moral
irreal e repressora por parte de uma distorcida educação católica – Simón amarra
tais elementos temáticos com precisão dentro de uma história de forte teor
simbólico a retratar uma sociedade tão conservadora como a espanhola (e, por
tabela, em sintonia com outras do mundo ocidental). O filme abarca tais
questões dentro de uma narrativa sóbria repleta de detalhes expressivos como
uma direção de fotografia que registra os exuberantes cenários naturais dentro
de um olhar que preserva tanto o lado assustador das densas matas quanto o
aspecto idílico dessa mesma natureza, as densas atmosferas dramáticas pontuadas
por silêncios expressivos e discreto uso de temas musicais e as atuações
naturalistas de seu elenco (com destaque evidente para as atrizes mirins
Artigas e Paula Robles).
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