terça-feira, dezembro 12, 2017

Como ser solteiro, de Rosane Svartman *

É bom deixar clara logo de cara uma constatação: “Como ser solteiro” (1998) é uma legítima tranqueira do cinema nacional. A impressão é de uma equação mal-ajambrada entre aquelas produções cariocas toscas e pueris da primeira metade dos anos 80, tipo “Menino do Rio” e “Bete Balançco”, e referências estéticas e temáticas a clássicas comédias românticas juvenis da mesma época dirigidas por John Hughes (“Gatinhas e gatões”, “A garota de rosa shocking”). Ainda assim, assistir a essa produção de Rosane Svartman acaba despertando por vezes curiosidade e simpatia. Por trás de uma concepção narrativa amorfa e um roteiro repleto de tiradas cômicas e dramáticas rasteiras, como se fosse a junção de “Zorra total” com uma novela global das mais chulés, há algo de uma atmosfera mista de inocente malandragem e sensualidade à flor da pele que remete a um imaginário carioca que se perdeu nos últimos anos – ficar de maneira deliberada nas mãos de evangélicos obscurantistas e picaretas como Garotinho e Crivella não é uma situação pela qual se passa incólume. Assim, mesmo um filme ordinário e ruim como esse “Como ser solteiro” acaba despertando uma certa nostalgia perturbadora.

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