É bom deixar clara logo de cara uma constatação: “Como ser
solteiro” (1998) é uma legítima tranqueira do cinema nacional. A impressão é de
uma equação mal-ajambrada entre aquelas produções cariocas toscas e pueris da
primeira metade dos anos 80, tipo “Menino do Rio” e “Bete Balançco”, e
referências estéticas e temáticas a clássicas comédias românticas juvenis da
mesma época dirigidas por John Hughes (“Gatinhas e gatões”, “A garota de rosa
shocking”). Ainda assim, assistir a essa produção de Rosane Svartman acaba
despertando por vezes curiosidade e simpatia. Por trás de uma concepção
narrativa amorfa e um roteiro repleto de tiradas cômicas e dramáticas
rasteiras, como se fosse a junção de “Zorra total” com uma novela global das
mais chulés, há algo de uma atmosfera mista de inocente malandragem e
sensualidade à flor da pele que remete a um imaginário carioca que se perdeu
nos últimos anos – ficar de maneira deliberada nas mãos de evangélicos
obscurantistas e picaretas como Garotinho e Crivella não é uma situação pela
qual se passa incólume. Assim, mesmo um filme ordinário e ruim como esse “Como
ser solteiro” acaba despertando uma certa nostalgia perturbadora.
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