Uma coisa fica muito evidente ao se assistir a “Três
anúncios para um crime” (2017) – o diretor Martin McDonagh deve gostar muito da
filmografia dos irmãos Coen. Seu filme junta dois aspectos recorrentes na obra
dos Coen: o gosto pela recriação dos preceitos narrativos de faroestes
clássicos (“Onde os fracos não têm vez”, “Bravura indômita”) e roteiro repleto
de elementos de humor negro (“Fargo”, “Queime depois de ler”). A presença como
protagonista de Frances McDormand, atriz que já colaborou diversas vezes com os
Coen, acentua essa impressão. O problema é que a sombra dessa influência
escancarada por vezes acaba atrapalhando pela questão de comparações
inevitáveis que acabam aparecendo. Nessa perspectiva, a produção dirigida por
McDonagh está bem longe da classe estética e das tramas bem lapidadas do melhor
que os célebres irmãos já fizeram em sua carreira. Ainda assim, “Três anúncios
para um crime” é uma obra que tem os seus méritos. Sua narrativa tem um ritmo
envolvente, além da encenação conciliar por vezes com bastante eficácia
tragédia e comédia, resultando em algumas sequências efetivamente muito
engraçadas. A direção de fotografia tem um talhe clássico, fazendo com que
algumas cenas a mostrar cenários pitorescos de cidadezinhas interioranas, bares
de beira-de-estrada e ambientações rurais de grandes campos abertos evoquem uma
homenagem estilizada a alguns dos principais filmes de John Ford e de outros
mestres do western. McDormand e Woody Harrelson apresentam seguras composições
dramáticas, e mesmo a atuação caricatural de Sam Rockwell revela algumas
nuances inspiradas. O roteiro cai em algumas simplificações e incongruências
excessivas, mas tem o seu lado instigante ao evidenciar um caráter fortemente
simbólicos das contradições e dilemas sócio-políticos que marcam o panorama
contemporâneo da sociedade norte-americana, principalmente no que diz respeito
ao questionamento de opressivos valores patriarcais e preconceito raciais.
Um comentário:
Três Anúncios Para Um Crime é sobre atos e consequências e cabe aos personagens saberem conviver ou não com suas próprias feridas. Saiba mais no meu blog.
Postar um comentário