Narrativa e encenação em “Deixe a luz do sol entrar” (2017)
se mostram em sintonia com a personalidade da protagonista Isabelle (Juliette
Binoche) – enquanto essa é uma mulher de comportamento errático, entre o
volúvel e o voluntarioso, os aludidos quesitos cinematográficos possuem um
caráter artístico inconstante, como se o filme seguisse um fluxo mais nebuloso,
dentro de um formato que mais se vincula ao episódico do que propriamente a um
ordenamento coerente. Os diversos envolvimentos sentimentais de Isabelle
radiografam não apenas suas dúvidas e inseguranças amorosas, mas também a
própria sociedade francesa contemporânea (o banqueiro canalha, o ator
egocêntrico, o ex-marido inconstante, o proletário misterioso). Por vezes tais
simbologias soam um tanto óbvias e esquemáticas, mas em outros momentos
configuram um arguto subtexto. A diretora Claire Denis foge de julgamentos
morais ou mesmo de uma lógica narrativa/temática equilibrada. Filme e
personagem principal entram em uma montanha russa de sensações e soluções
estéticas/existenciais, e sem necessariamente encontrar uma conclusão que
amarre essa “confusão”. O ponto mais fascinante da produção é justamente essa
impressão constante de tudo estar sempre em aberto. Os altos e baixos de
Isabelle não implicam na certeza de um amadurecimento para personagem ou no
atingimento do seu objetivo final do encontro do amor verdadeiro. Na sequência
final, no diálogo entre ela e um místico picareta (Gérard Depardieu),
encontra-se a síntese desconcertante de Denis em sua proposta para “Deixe a luz
do sol entrar”, em que a conversa entre os personagens é prolixa e repleta de
lugares comuns, mas provida de sedutor encanto em sua cadência e nuances.
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