quinta-feira, junho 14, 2018

Deixe a luz do sol entrar, de Claire Denis ***


Narrativa e encenação em “Deixe a luz do sol entrar” (2017) se mostram em sintonia com a personalidade da protagonista Isabelle (Juliette Binoche) – enquanto essa é uma mulher de comportamento errático, entre o volúvel e o voluntarioso, os aludidos quesitos cinematográficos possuem um caráter artístico inconstante, como se o filme seguisse um fluxo mais nebuloso, dentro de um formato que mais se vincula ao episódico do que propriamente a um ordenamento coerente. Os diversos envolvimentos sentimentais de Isabelle radiografam não apenas suas dúvidas e inseguranças amorosas, mas também a própria sociedade francesa contemporânea (o banqueiro canalha, o ator egocêntrico, o ex-marido inconstante, o proletário misterioso). Por vezes tais simbologias soam um tanto óbvias e esquemáticas, mas em outros momentos configuram um arguto subtexto. A diretora Claire Denis foge de julgamentos morais ou mesmo de uma lógica narrativa/temática equilibrada. Filme e personagem principal entram em uma montanha russa de sensações e soluções estéticas/existenciais, e sem necessariamente encontrar uma conclusão que amarre essa “confusão”. O ponto mais fascinante da produção é justamente essa impressão constante de tudo estar sempre em aberto. Os altos e baixos de Isabelle não implicam na certeza de um amadurecimento para personagem ou no atingimento do seu objetivo final do encontro do amor verdadeiro. Na sequência final, no diálogo entre ela e um místico picareta (Gérard Depardieu), encontra-se a síntese desconcertante de Denis em sua proposta para “Deixe a luz do sol entrar”, em que a conversa entre os personagens é prolixa e repleta de lugares comuns, mas provida de sedutor encanto em sua cadência e nuances.

Nenhum comentário: