quinta-feira, junho 07, 2018

O maníaco, de William Lusting ****


Durante o XIV FANTASPOA, mais especificamente na sessão comentada de “O maníaco” (1980), o diretor norte-americano William Lusting confessou que o filme em questão era diretamente inspirado no gênero giallo. Assistindo à referida obra, tal constatação fica bastante evidente, vide o grafismo exagerado e escatológico das cenas de assassinatos, os temas incidentais algo dissonantes da trilha sonora e a atmosfera entre o sombrio e o sórdido que predomina na narrativa. Essas referências, entretanto, são incorporadas dentro de uma visão artística bem particular por parte de Lusting. Ao invés daquela concepção estética que emulava o operístico e o barroco que marcou vários trabalhos de Dario Argento, Mario Bava, Lucio Fulci e tanto outros luminares italianos, “O maníaco” apresenta um formalismo bem mais cru e direto, ainda que rigoroso e coerente sob a direção segura de Lusting. A encenação e o roteiro se mostram em uma impressionante sintonia na forma com que retratam a história do psicopata assassino Frank Zito (Joe Spinell) – ao invés da narrativa ser enquadrada dentro de um óbvio e maniqueísta conto sobre o embate entre o bem e o mal, o que se tem é um registro aterrorizante e desolador do cotidiano do demente homicida trucidando mulheres e se perdendo em delírio edipianos. A tensão sufocante do filme não vem tanto do suspense em relação à morte de suas vítimas, mas sim da progressiva desagregação mental e moral do protagonista que o leva a um fim que se configura como um pesadelo perturbador. É notável também como Lusting incorpora a própria cidade de Nova York na narrativa – mais do que simples pano de fundo, a metrópole funciona como uma espécie de extensão imagética e existencial dos delírios brutais de Frank, entre uma efervescência de cores e barulhos e ambientações de sujeira e ruínas.

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