Durante o XIV FANTASPOA, mais especificamente na sessão
comentada de “O maníaco” (1980), o diretor norte-americano William Lusting
confessou que o filme em questão era diretamente inspirado no gênero giallo.
Assistindo à referida obra, tal constatação fica bastante evidente, vide o
grafismo exagerado e escatológico das cenas de assassinatos, os temas
incidentais algo dissonantes da trilha sonora e a atmosfera entre o sombrio e o
sórdido que predomina na narrativa. Essas referências, entretanto, são
incorporadas dentro de uma visão artística bem particular por parte de Lusting.
Ao invés daquela concepção estética que emulava o operístico e o barroco que
marcou vários trabalhos de Dario Argento, Mario Bava, Lucio Fulci e tanto
outros luminares italianos, “O maníaco” apresenta um formalismo bem mais cru e
direto, ainda que rigoroso e coerente sob a direção segura de Lusting. A
encenação e o roteiro se mostram em uma impressionante sintonia na forma com
que retratam a história do psicopata assassino Frank Zito (Joe Spinell) – ao
invés da narrativa ser enquadrada dentro de um óbvio e maniqueísta conto sobre
o embate entre o bem e o mal, o que se tem é um registro aterrorizante e
desolador do cotidiano do demente homicida trucidando mulheres e se perdendo em
delírio edipianos. A tensão sufocante do filme não vem tanto do suspense em
relação à morte de suas vítimas, mas sim da progressiva desagregação mental e
moral do protagonista que o leva a um fim que se configura como um pesadelo
perturbador. É notável também como Lusting incorpora a própria cidade de Nova
York na narrativa – mais do que simples pano de fundo, a metrópole funciona
como uma espécie de extensão imagética e existencial dos delírios brutais de
Frank, entre uma efervescência de cores e barulhos e ambientações de sujeira e
ruínas.
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