O ascetismo estético e moral que foi a grande marca do
cinema do diretor francês Robert Bresson paira de maneira constante na
narrativa de “O caminho dos sonhos” (2016). A cineasta alemã Angela Schanelec
reduz o formalismo de seu filme ao essencial, formatando um austero conto moral
pontuado por uma bela direção de fotografia e uma montagem sóbria. Dentro desse
direcionamento artístico, não há grandes arroubos criativos ou sensoriais na
obra, o que por vezes torna assistir à produção uma experiência um tanto árida.
De qualquer, tal abordagem acaba se revelando adequada para o tom de desilusão
amarga do roteiro. Schanelec consegue estabelecer de maneira coerente e
profunda algumas ideias complexas em termos de construção psicológica das
situações e dos personagens. Por vezes, até se tem a impressão que a
aleatoriedade predomina sobre a narrativa e a trama, mas as ligações
existenciais entre os fatos e criaturas da história vão se estabelecendo de
maneira sutil. Nesses termos, até mesmo os aspectos temporais se interligam a
partir de um conceito que se defini com fluidez – é como se os dilemas sócio-políticos
em 1984, época da primeira parte do filme, tivessem recebido apenas pequenas variações
em 2014, na metade final da trama, e ao mesmo tempo todas as contradições e
perturbações pessoais que assolam os principais personagens pouco mudassem com
os passar dos anos e o avanço da maturidade. Esse fatalismo até se evidencia
como algo óbvio, mas ainda assim tem um caráter perturbador para o espectador.
Nessa contraposição entre o previsível e o incômodo reside a efetiva
transcendência artística de “O caminho dos sonhos”.
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