A comparação entre “Ausência” (2014) e “Casa de Alice”
(2007), filme anterior de Chico Teixeira, mostra que o diretor tem uma certa
coerência artística. As duas produções têm tratamentos formais e temáticas
semelhante – roteiro e narrativa obedecem a uma lógica rigorosa em seus
desdobramentos, revelando uma visão de mundo aguçada na percepção das mazelas
existenciais da sociedade brasileira contemporânea. No filme mais recente, a
progressão de fatos da trama obedece a uma equação que beira a matemática, em
que a sucessão de situações deprimentes faz com que o protagonista Serginho
(Matheus Fagundes) entre numa espiral de desilusões. Teixeira faz transparecer
em sua obra um severo modus operandi em que cada cena traz uma carga
explicativa, e por vezes até simbólica, na construção de uma tese sobre
abandono emocional na menoridade. É de se convir que nesse sentido “Ausência”
seria uma expressiva peça sociológica a embasar teorias comportamentais. Todo
esse acuro filosófica/intelectual, entretanto, não consegue se traduzir num
resultado cinematográfico satisfatório. Falta uma vivacidade, uma
transcendência artística, dentro desse estilo opaco de Teixeira filmar. O
espectador até consegue entender os dilemas e dificuldades de Serginho, mas
também não consegue sentir alguma real empatia pelo personagem e mesmo por
aqueles que o cercam. Por mais que os diversos tipos de relacionamentos nos
quais Serginho se envolve servem para construir a base para a evolução das
ideias do filme, nenhuma dessas interações é esmiuçada de uma maneira mais profunda,
ficando num desenvolvimento muito superficial. Se a história se concentrasse
mais na ambiguidade do relacionamento entre Serginho e o “Professor” (Irandhir
Santos), por exemplo, teria um impacto muito maior. No mais, até dá para entender
que essa aridez estética e emocional de “Ausência” tenha uma função de evitar
que a obra caia no sentimentalismo fácil ao abordar a questão da adolescência à
beira-do-abismo, mas obras com temática semelhante como “Os incompreendidos” (1959)
e “Pixote” (1981) já mostraram que se pode ter uma abordagem artística mais
grandiosa e memorável sem perder a contundência de seu discurso.
Um comentário:
É um filme que me lembrou muito Pixote também. Amigo, verifique os anos do filmes que citou pois está errado.
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