Dentro do universo autoral do diretor norte-americano Todd
Haynes, aspectos estéticos como figurino, direção de arte e fotografia não são
apenas quesitos técnicos, mas pontos fundamentais que se relacionam de forma
profunda com as temáticas de seus filmes. Longe de um mero apuro formal
estéril, tais detalhes imagéticos refletem a condição existencial dos
personagens, funcionam como alegorias visuais do subtexto dos roteiros e também
caracterizam a própria visão de mundo de Haynes, ajudando a dar um padrão bastante
pessoal para a sua filmografia. Foi assim na recriação despudorada do universo
do glam rock em “Velvet Goldmine” (1998), na irônica mescla de estilos retrôs
em “Longe do paraíso” (2002) e na viagem sensorial pelo imaginário de Bob Dylan
em “Não estou lá” (2007). “Carol” (2015), produção mais recente com a
assinatura de Haynes, mantem esse habitual e forte esmero formal do diretor,
estando repletos de virtuosismos de encher os olhos como planos de sequências
muito bem executados, reconstituição de época primorosa dos anos 50 e
caracterização visual chique ao extremo dos personagens (até as figuras de
condição social mais modesta são muito bem vestidas). O problema é que dessa
vez o cuidado estético não encontra uma narrativa à altura. Por mais que haja
aquela aura de ousadia por trazer para o primeiro plano uma história de amor
lésbico, o tratamento dado é muito convencional, por vezes chegando até a
beirar o enfadonho. Os dilemas da trama resvalam no melodrama excessivo, e
quando as cenas se concentram no romance entre as protagonistas, inclusive nas
sequências de sexo, há uma atmosfera diáfana, quase de beatitude, o que tira
bastante da força dramática de tais momentos. Por mais que a história se passe
num período de forte repressão moral, falta uma carnalidade mais vigorosa na
interação de tais personagens que torne o amor entre elas mais verossímil (nos
moldes, por exemplo, do extraordinário “Azul é a cor mais quente”). É claro que,
no geral, “Carol” é um drama eficiente e envolvente, mas em se tratando de um
cineasta com o currículo de Haynes acaba sendo um tanto frustrante.
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