sexta-feira, janeiro 22, 2016

Carol, de Todd Haynes ***

Dentro do universo autoral do diretor norte-americano Todd Haynes, aspectos estéticos como figurino, direção de arte e fotografia não são apenas quesitos técnicos, mas pontos fundamentais que se relacionam de forma profunda com as temáticas de seus filmes. Longe de um mero apuro formal estéril, tais detalhes imagéticos refletem a condição existencial dos personagens, funcionam como alegorias visuais do subtexto dos roteiros e também caracterizam a própria visão de mundo de Haynes, ajudando a dar um padrão bastante pessoal para a sua filmografia. Foi assim na recriação despudorada do universo do glam rock em “Velvet Goldmine” (1998), na irônica mescla de estilos retrôs em “Longe do paraíso” (2002) e na viagem sensorial pelo imaginário de Bob Dylan em “Não estou lá” (2007). “Carol” (2015), produção mais recente com a assinatura de Haynes, mantem esse habitual e forte esmero formal do diretor, estando repletos de virtuosismos de encher os olhos como planos de sequências muito bem executados, reconstituição de época primorosa dos anos 50 e caracterização visual chique ao extremo dos personagens (até as figuras de condição social mais modesta são muito bem vestidas). O problema é que dessa vez o cuidado estético não encontra uma narrativa à altura. Por mais que haja aquela aura de ousadia por trazer para o primeiro plano uma história de amor lésbico, o tratamento dado é muito convencional, por vezes chegando até a beirar o enfadonho. Os dilemas da trama resvalam no melodrama excessivo, e quando as cenas se concentram no romance entre as protagonistas, inclusive nas sequências de sexo, há uma atmosfera diáfana, quase de beatitude, o que tira bastante da força dramática de tais momentos. Por mais que a história se passe num período de forte repressão moral, falta uma carnalidade mais vigorosa na interação de tais personagens que torne o amor entre elas mais verossímil (nos moldes, por exemplo, do extraordinário “Azul é a cor mais quente”). É claro que, no geral, “Carol” é um drama eficiente e envolvente, mas em se tratando de um cineasta com o currículo de Haynes acaba sendo um tanto frustrante.

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