O título do documentário “Eu sou Ingrid Bergman” (2015)
sintetiza com propriedade a sua essência artística – trata-se de uma
cinebiografia cuja boa parte do direcionamento narrativo é dado pela própria
protagonista. Desde criança, a atriz sueca já tinha registros audiovisuais
feitos pelo pai. Com o passar dos anos, manteve o hábito de filmar vários
momentos de seu cotidiano com maridos, filhos e amigos. Além disso, por quase
toda a vida escrevia suas memórias e impressões em diários e cartas para
amigas. Nesse sentido, por vezes há um efeito sensorial interessante, em que
espectador tem a impressão de estar dentro da mente de Bergman. Assim, aliado a
filmagens de bastidores, trechos de noticiários e passagens de algumas das
produções mais memoráveis das quais ela participou, o diretor Stig Björkman
teve a sua disposição um farto material para compor sua narrativa. Ainda que
obedecendo a uma estrutura formal bastante convencional, o cineasta conseguiu
oferecer um panorama bem amplo da vida de Ingrid Bergman, mostrando com
sensibilidade os dilemas e contradições dramáticos que marcaram a vida pessoal
e profissional da biografada, além de evidenciar como tais fatos refletiram a
época em que ela viveu: os anos de ouro de Hollywood (e as hipocrisias morais e
comportamentais que marcavam aquele ambiente), a conturbada relação emocional e
artística com o genial diretor italiano Roberto Rossellini, a incessante busca
por credibilidade artística. Há uma certa sobriedade emocional na forma com que
Björkman conduz o documentário, sabendo ressaltar a complexidade e
independência do caráter da atriz nas escolhas artísticas e particulares que
fez durante a sua trajetória. Assim, além de atraente para aqueles que apreciam
a história do cinema, “Eu sou Ingrid Bergman” consegue ser universal por trazer
à tona uma pessoa singular em diversos aspectos.
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