quinta-feira, janeiro 21, 2016

Eu sou Ingrid Bergman, de Stig Björkman ***

O título do documentário “Eu sou Ingrid Bergman” (2015) sintetiza com propriedade a sua essência artística – trata-se de uma cinebiografia cuja boa parte do direcionamento narrativo é dado pela própria protagonista. Desde criança, a atriz sueca já tinha registros audiovisuais feitos pelo pai. Com o passar dos anos, manteve o hábito de filmar vários momentos de seu cotidiano com maridos, filhos e amigos. Além disso, por quase toda a vida escrevia suas memórias e impressões em diários e cartas para amigas. Nesse sentido, por vezes há um efeito sensorial interessante, em que espectador tem a impressão de estar dentro da mente de Bergman. Assim, aliado a filmagens de bastidores, trechos de noticiários e passagens de algumas das produções mais memoráveis das quais ela participou, o diretor Stig Björkman teve a sua disposição um farto material para compor sua narrativa. Ainda que obedecendo a uma estrutura formal bastante convencional, o cineasta conseguiu oferecer um panorama bem amplo da vida de Ingrid Bergman, mostrando com sensibilidade os dilemas e contradições dramáticos que marcaram a vida pessoal e profissional da biografada, além de evidenciar como tais fatos refletiram a época em que ela viveu: os anos de ouro de Hollywood (e as hipocrisias morais e comportamentais que marcavam aquele ambiente), a conturbada relação emocional e artística com o genial diretor italiano Roberto Rossellini, a incessante busca por credibilidade artística. Há uma certa sobriedade emocional na forma com que Björkman conduz o documentário, sabendo ressaltar a complexidade e independência do caráter da atriz nas escolhas artísticas e particulares que fez durante a sua trajetória. Assim, além de atraente para aqueles que apreciam a história do cinema, “Eu sou Ingrid Bergman” consegue ser universal por trazer à tona uma pessoa singular em diversos aspectos.

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