A essa altura do campeonato, o espectador mais cético deve
achar que mais uma adaptação cinematográfica para a clássica peça shakespeariana
“Macbeth” não teria muito a acrescentar (ainda mais se alguém for lembrar do
recente “A floresta que se move”, tenebrosa produção brasileira que se inspira
na obra-prima do bardo inglês). Justiça seja feita, entretanto, que “Macbeth:
Ambição e guerra” (2015) é um trabalho que faz uma releitura vigorosa da
trágica história do personagem-título. O diretor Justin Kurzel não apresenta
propriamente grandes novidades em suas concepções artísticas, mas revela forte
criatividade na encenação e na caracterização visual de seu filme. Um olhar
mais apressado pode achar que se tratar de uma abordagem naturalista da peça, só
que aos poucos a narrativa vai se revelando cada vez mais estilizada em suas
nuances pictóricas e na caracterização de personagens e situações. Por vezes
essa atmosfera difusa entre a linguagem realista e a marcação teatral faz a
narrativa ficar um tanto truncada e enfadonha. O forte no filme é justamente
quando a ação come solta – nesse sentido, as sequências de batalhas e
carnificinas revelam ideias muito bem executadas, em que os níveis de violência
e brutalidade dão uma forte dimensão dramática para a obra. A comparação pode
soar forçada, mais tais cenas fazem lembrar um “300” (2006) bem melhor
dirigido. Além disso, o elenco está em sintonia com o espírito da obra,
oferecendo atuações sanguíneas e expressivas, devendo-se destacar também a bela
e climática trilha sonora. No geral, não dá para dizer que essa seja a versão
cinematográfica definitiva da obra em questão, talvez esse título caiba à
magnífica recriação forjada por Roman Polanski em 1971. Ainda assim, é um esforço
bem digno e recompensador por parte de Kurzel.
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