Na maioria das vezes, quando aparece um filme cuja trama,
fictícia ou não, trata da trajetória artística de um músico ou uma banda, o
enfoque principal é se os protagonistas fizeram muito sucesso ou não, mostrando
ainda os efeitos da fama e do dinheiro sobre a vida de tais personagens. Em boa
parte dessas mesmas produções, a música parece ter um caráter quase secundário,
como se fosse uma coadjuvante diante das agruras sentimentais e até mesmo
financeiras dos artistas. Como não esquecer, por exemplo, da ode ao arrivismo
que era o lastimável “Dois filhos de Francisco” (2005)? Diante desse quadro, a
comédia dramática “Frank” (2014) se mostra uma saudável exceção. Para o
personagem-título (Michael Fassbender), líder de uma esquisitíssima banda de
rock underground, seguir a sua inspiração/musa e ser coerente com suas
particulares concepções musicais é fundamental não só para a qualidade de suas
canções como para manter o seu frágil equilíbrio mental. Se o público, crítica
e curadores de festivais vão gostar não é para ele exatamente o que importa. O
ponto de conflito do filme é justamente quando entra em seu grupo Jon (Domhnall
Gleeson), um jovem músico com fortes pretensões de sucesso e prestígio que
acaba desagregando a banda e colocando Frank em uma pressão emocional que o
leva à loucura. A possibilidade de que às coisas voltem ao “normal” para o
protagonista está justamente na recuperação do caráter insólito e pouco
acessível da sua arte. O diretor Lenny Abrahamson conduz a narrativa como uma
espécie de conto moral agridoce, que oscila entre o realismo melancólico e uma
ambientação delirante (principalmente em alguns ótimos números musicais em que
Frank e sua trupe dão vazão a estranhos temas misturando melodias e barulhos
poucos usuais), fazendo um belo e melancólico tributo a loucos, obscuros e
genais bardos do rock and roll como Syd Barret, Daniel Johnston e Billy
Childish.
Um comentário:
Esquisito mas não menos genial
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