Paira sobre o documentário “O futebol” (2015) um certo senso
de caos e aleatoriedade. Num primeiro momento, o diretor Sergio Oksman se
propõe a fazer uma espécie de diário intimista de um período de reaproximação
com o seu pai, Simão Oksman, tendo em vista o fato de terem passado 20 anos sem
se falarem e nesse longo tempo o cineasta ter se mudado para a Espanha. Essa
temporada de interação entre pai e filho se daria durante a Copa do Mundo de 2014
no Brasil. Pelas conversas entre os dois, pode-se pressupor que o futebol seria
um assunto que os aproximaria, tanto pelo fato de Simão ser um grande
apreciador do esporte quanto pelo histórico de que na infância e juventude do
diretor este e o pai costumavam ir juntos aos estádios. Ocorre, entretanto, que
os planos iniciais parecem não se concretizarem devido ao inesperado: o
ambiente em São Paulo não parece ter aquela animação esperada para uma época de
Copa no Brasil, Simão se mostra um tanto arredio e taciturno e, por fim, o pai
acaba falecendo no meio da competição. Apesar dessas inconstâncias do destino,
o filme consegue manter um inabalável rigor formal e existencial, o que dá para
a obra uma unidade artística impressionante. O registro visual da direção de
fotografia, baseado em longos planos-sequência fixos, é simples na sua execução
e bastante expressivo na configuração da atmosfera e da narrativa da obra. Essa
abordagem que Sergio Oksman dá para a sua obra remete bastante ao ascetismo
característico de Robert Bresson. Ao contrário da transcendência metafísica que
os trabalhos de Bresson sugerem, o estilo áspero de “O futebol” evoca uma
resignação melancólica, em que a impossibilidade de comunicação efetiva entre
pai e filho para a reconstrução de laços afetivos, o desempenho constrangedor
da seleção na Copa e o ânimo sombrio que São Paulo transparece parecem se
relacionar de maneira intrínseca, resultando num retrato bastante emblemático
dos tempos conturbados que vivemos.
Um comentário:
Assisti ontem. Muito show
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