segunda-feira, outubro 17, 2016

Cegonhas - A história que não te contaram, de Nicholas Stoller e Doug Sweetland ***

Talvez ao se analisar uma animação norte-americana voltada para o público infantil e enxergar implicações culturais e existenciais pode parecer que se esteja forçando a barra, tentando se dar alguma legitimidade para uma produção de caráter eminentemente comercial, que visa não só lucrar nas bilheterias como também vender um monte de bugigangas atreladas (brinquedos, lanches e afins). É claro que existem filmes e franquias no gênero que enveredam por essa lógica meramente mercantilista, mas também há exemplares que extrapolam tais intenções comerciais e procuram oferecer algo mais em suas pretensões artísticas (a grande maioria do que a Pixar já fez é atestado de tal prática). Nesse último caso, dá para enquadrar “Cegonhas – A história que não te contaram” (2016). O filme em questão obedece a uma fórmula eficiente de diversão – personagens carismáticos, roteiro bem delineado, grafismo expressivo, boas sequências de ação. A cereja do seu bolo, entretanto, está no sutil e contundente subtexto da sua trama, em que os mecanismos desumanos de exaltação à ambição de ascensão social e conseqüente desagregação das relações sócio-afetivas são expostos com ironia e sensibilidade. Há algo também de um certo encanto nostálgico na valorização da imaginação e inocência infantis perante um mundo cada vez mais dominado por avanços tecnológicos e consumismo desarvorado. Ainda que não traga o mesmo brilhantismo temático e estético de algumas animações contemporâneas (como “Wall-E” e “Detona Ralph!”), “Cegonhas” ainda consegue surpreender e comover o espectador pelo inusitado e mesmo coragem de algumas de suas soluções narrativas.

Um comentário:

Marcelo Castro Moraes disse...

Não tive interesse em ver esse filme mas essa crítica me animou