É intrigante que um dos filmes mais ácidos e contestadores
da atual temporada seja uma animação norte-americana cômica, desbocada e escatológica.
Mas esse é exatamente o caso em “Festa da salsicha” (2016). O filme dos
diretores Conrad Vernon e Greg Tiernan obedece a uma estrutura narrativa
fabular básica no gênero das animações, em que uma trama repleta de aventura e
alguns toques românticos traz em suas entrelinhas uma “moral da história”
envolvendo superação e amadurecimento, com direito, inclusive, a momentos
musicais entre o apoteótico e o meloso. Só que o roteiro que mostra alimentos
antropomorfizados de um supermercado que tomam consciência de que servem
somente para saciar a fome dos deuses gigantes (no caso, os seres humanos) na
realidade se mostra uma corrosiva diatribe contra alguns dos valores mais caros
da sociedade contemporânea. Na visão da obra, a religião só serve para iludir
ignorantes incautos para que esses não questionem uma realidade de opressão e
exploração, fazendo com que uma classe dominante se beneficie dessa alienação
(não faz lembrar um certo país que teve um golpe de estado recentemente com a
colaboração de uma direita evangélica?). E a melhor resposta para tal empulhação
mística seria a revolta violenta, além de uma filosofia de vida baseada num
hedonismo libertário. “Festa da salsicha” consegue formatar esse discurso
ousado e humanista em uma narrativa bastante divertida e movimentada, além de
trazer um grafismo marcante na forma com que violência, sexo e escatologia são
expostos em cena. Caros pais, não se assustem com a faixa etária, essa é a
animação que seus filhos devem ver!!
Um comentário:
Um dos filmes mais corajosos do ano
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