O diretor argentino Sebastián Borensztein dá a impressão de
querer realizar uma revitalização de clichês de filmes de gênero. No medíocre “Um
conto chinês” (2011), fez uma espécie de recriação pálida de comédia romântica,
ainda que procurasse dar uma aparência ilusória de realismo dramático. Em sua
mais recente empreitada, “Kóblic” (2016), o cineasta busca uma espécie de síntese
entre drama político e policial, mas o que realmente atinge como resultado
final é um faroeste reciclado e por vezes até bem divertido. O roteiro insinua
uma pretensa seriedade ao evocar o drama de desaparecidos políticos que na
verdade eram jogados ao mar por agentes da repressão no período da ditadura
militar argentina nos anos 70 e 80. Mas essa aura solene é jogada por terra
diante dos furos da trama – se o protagonista Kóblic (Ricardo Darín) quer tanto
ficar incógnito numa cidadezinha fim de mundo do interior, por que se expõe
tanto saindo para beber no único bordel da região e também tendo um caso com a
companheira de um tipinho violento e execrável? Isso sem contar que em algumas
sequências o filme se perde em excessos melodramáticos, principalmente nas
partes românticas. Na verdade, a melhor forma de encarar “Kóblic” é como se
fosse um tipo de versão fuleira para “Os brutos também amam” (1953). A
caracterização do delegado vilão Velarde (Oscar Martinez), por exemplo, é um
primor de escrotidão e sordidez. E o terço final repleto de duelos e mortes
encenados com boa dinâmica e detalhamento visual é bem memorável. Em tais
cenas, Borensztein consegue dar uma certa ambientação mitológica cativante para
a sua obra, e com Darín conseguindo tendo uma interessante altivez icônica para
o seu personagem que faz lembrar algo do enigmático cowboy Shane.
Um comentário:
Não posso dizer muito desse porque eu não assisti ainda, mas não achei esse horror que você achou de Um conto chinês não.
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