No meio de um cenário sócio-político tão conturbado como o
atual, em que preconceitos e hipocrisias cada vez mais afloram com força, não
deixa de ser salutar que um filme como “Lua em sagitário” (2015) apareça nos
cinemas, principalmente pelo conteúdo de sua parte temática. A obra apresenta
um retrato positivo e humano sobre os movimentos sociais, sempre tão
marginalizados na visão da mídia oficial, além de procurar uma perspectiva mais
sensível sobre os dilemas da adolescência feminina e que fuja de parâmetros óbvios
e conservadores. E há uma cena em particular que surpreende pela contundência textual
que é aquela do discurso do jovem Murilo (Fagundes Emanuel) sobre as raízes do
conflito de classes na sociedade brasileira, um tema tabu dentro do cotidiano
de novelas e noticiários pasteurizados da maioria das pessoas. O grande
problema da produção dirigida por Márcia Paraíso é que a ousadia de sua temática
não é acompanhada por uma construção narrativa e por um formalismo de relevo. A
cineasta se acomoda em adequar a trama dentro de um formato de comédia dramática
estilo “boy meets girl” pouco convincente e de encenação precária. Por diversas
oportunidades, a impressão que se tem no desenvolvimento de situações e
personagens é de uma rígida e superficial linguagem presa a estereótipos que
retira muito da vida e desenvoltura da narrativa, fazendo tudo parecer um
teatro escolar ou amador (qualquer cena que envolva os pais da protagonista Ana,
por exemplo, é constrangedora na sua formatação simplória). Há uma sequência em
que “Lua em sagitário” até dá uma ideia de que poderia ter sido uma experiência
bem mais interessante como cinema que é quando Ana e Murilo ficam hospedados na
casa de um velho casal hippie interpretado por Elke Maravilha e Serguei – os toques
de lisergia e sensualidade na atmosfera de tais tomadas são meio esquisitas,
mas apresentam muito mais vida e desafio existencial/artístico do que em todo o
resto do filme. E há outros elementos positivos na obra: a garota Manuela
Campagna tem uma forte presença cênica e a trilha sonora é repleta de ótimas
canções nos gêneros pop e rock. Tais aspectos, entretanto, estão longe de
salvar “Lua em sagitário” e apenas reforçam a expectativa frustrada de que a
produção poderia ter sido muito melhor.
Um comentário:
Pena, pois andei ouvindo bastante até deste filme
Postar um comentário