Não que “O lar das crianças peculiares” (2016) seja um mau
filme. Pelo contrário – perto dessas franquias de fantasia adolescente que
proliferam aos montes nas salas de cinema ultimamente, a produção em questão
até se destaca pela narrativa equilibrada e pela caracterização visual de
criatividade acima da média. O que torna tal obra frustrante, entretanto, é o
fato de se saber que quem é o seu diretor é Tim Burton, nome de quem se espera
sempre muito mais. Por vezes, em algumas sequências, até dá para perceber
aquela síntese de formalismo barroco e atmosfera bizarra que se tornou a grande
marca artística de Burton. Fora isso, o traço autoral do cineasta aparece muito
pouco, ficando imersa no roteiro genérico e numa certa assepsia estética. Ao
invés de perverter os cânones narrativos típicos do gênero aventura
contemporâneo e os moldar dentro de seus conceitos particulares, Burton se limita
a readequar sua linguagem dentro de tal ortodoxia. O resultado final é
competente e até consegue cativar por vezes a plateia, mas é duro saber que
esse padrão bem comportado vem do mesmo cara que concebeu diversões alucinadas antológicas
como “Batman – O retorno” (1992) e “Marte ataca!” (1996) ou geniais contos de
fadas perversos como “Edward Mãos de Tesoura” (1990) ou “A lenda do cavaleiro
sem cabeça” (1999).
Um comentário:
Tim Burton é um cineasta autoral, mas ao mesmo tempo consciente sobre o ramo onde trabalha, onde o dinheiro, na maioria das vezes, fala mais alto. Tendo esse pensamento, percebo que ele se divide com o seu cinema autoral e trabalhos para a massa. Quando ele fez Noiva Cadáver, por exemplo, ele fez A Fantástica Fabrica de Chocolate e quando ele fez Batman ele fez Mãos de Tesoura e assim por diante.
Para sobreviver e ficar ainda na ativa, ou você se vende ou fica a ver navios.
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