segunda-feira, outubro 10, 2016

Os senhores da guerra, de Tabajara Ruas *

Dá para dizer que pelo menos há duas coisas em que a produção gaúcha “Os senhores da guerra” (2014) acertou: o bom senso de marketing por lançar o filme em questão na semana farroupilha e o competente trabalho de Kapel Furman nos efeitos especiais (com destaque para a parte “gore” da coisa – vísceras e sangue proliferam de forma convincente). Fora esses dois aspectos, a obra dirigida por Tabajara Ruas naufraga da maneira clamorosa, principalmente pelos mesmos equívocos que vêm marcando esse gênero do drama de época regionalista gaúcho, em que o simples fato de ter como pano de fundo eventos históricos importantes procura mascarar uma falta de apuro na encenação e na dinâmica da narrativa (vide outros trabalhos falhados nesse linha como as adaptações cinematográficas recentes dos clássicos literários “Contos gauchescos” e “O tempo e o vento”). Não há uma fluência dramática no desenvolvimento de personagens e situações que os tornem críveis ou cativantes. Assim, o elenco interage e profere seus diálogos de maneira artificial e empostada, beirando um didatismo e mecanicidade que faz lembrar uma teatralização de terceira de um programa televisivo educativo estilo “telecurso 2º grau”. Ou seja, pode funcionar até numa sala de aula, mas como cinema está muito longe de convencer. Além disso, o roteiro peca demais na forma como personagens entram e saem da narrativa sem maiores explicações ou aprofundamento, sugerindo que algumas cenas devem ter ficado de fora na montagem e o que sobrou acabou mal costurado. Esse tom meio apressado na concepção da trama também fica evidente nas sequências de batalha (que deveriam ser o ápice existencial do filme), não havendo uma coreografia de impacto nas sequências de lutas e tiroteios, prevalecendo uma edição que picota a ação de uma maneira que parece querer esconder uma certa precariedade na encenação. A direção de fotografia é anódina dentro do seu estilo cartão postal, enquanto a trilha sonora envereda por uma obviedade em suas milongas de letras e melodias pouco marcantes. Diante de todas essas soluções artísticas nada inspiradas de “Os senhores da guerra”, mesmo boas ideias como a do texto em forma de poesia de um narrador/declamador, sugerindo uma espécie de síntese formal entre literatura e cinema, acaba se revelando apenas um recurso estético cansativo e sem força. Em um ano como esse, em que outras produções gaúchas (“Ponto zero”, “Errantes”, “Nós duas descendo a escada”) apareceram em nossas salas de cinema mostrando caminhos narrativos mais inquietantes e criativos, um filme como “Os senhores da guerra”, de linguagem cinematográfica tão mofada e destituída de vigor, acaba destinado a uma espécie de limbo de trabalhos inexpressivos.

Um comentário:

Marcelo Castro Moraes disse...

Assisti na época que foi exibido em Gramado. Não é como Neto Perdeu a sua alma, mas dá para o gasto