Os conceitos estéticos e existenciais de “Canção da volta”
(2016) são consistentes e inquietantes. A trama que que trata das consequências
práticas e sentimentais provocadas pelas crises de depressão de Julia (Marina
Person) para sua família apresenta um subtexto desafiador no sentido de
questionar os preceitos comportamentais de uma classe média dita civilizada e
humanista. A concepção narrativa procura acompanhar esse caráter ousado do
roteiro, valendo-se de uma estrutura temporal que por vezes se afasta do
linear, como se mostrasse em sintonia com o caráter errático da personalidade
da protagonista. O problema central da produção dirigida por Gustavo Rosa de
Moura, entretanto, está numa encenação um tanto engessada e que não acompanha
esse espírito libertário da história que é contada. Falta uma maior
desenvoltura na interação dos atores com aquilo que é contado em cena, fruto de
uma excessiva racionalização na hora de colocar as ideias em prática. Os
melhores momentos da obra são aqueles em que a forma e o conteúdo encontram uma
síntese mais livre e espontânea, vide a sequência em que Julia entra em uma
espécie de transe e dança sozinha esbarrando pelos móveis da casa ou as tomadas
das aulas de balé da personagem – tais trechos imagéticos conseguem apresentar
uma carga simbólica forte apenas pelo vigor da ação e sintetizam melhor o
espírito contestador de “Canção da volta”. Se o diretor tivesse mantido esse
tipo de solução narrativa, talvez seu filme tivesse apresentado um resultado
artístico semelhantes a produções memoráveis que versaram sobre temática
semelhante como “Possessão” (1981) e “Melancolia” (2011).
Um comentário:
No meu caso eu achei que faltou um pouco mais de presença da Marina, pois as poucas cenas que ela surge simplesmente coloca o filme no bolso
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