quinta-feira, novembro 24, 2016

Cinema Novo, de Eryk Rocha ***1/2

Seria um tanto incoerente fazer um documentário sobre o Cinema Novo utilizando uma linguagem convencional e acadêmica, tendo em vista o fato do movimento deflagrado por Glauber Rocha e outros inquietos cineastas ter procurado justamente romper com tradicionalismos mofados dentro da ordem cinematográfica. Por esse motivo, o cineasta Eryk Rocha adota uma via criativa e ousada em “Cinema Novo” (2016) – ao invés de simplesmente “contar uma história” utilizando os recursos mais óbvios nesse tipo de produção como se fosse uma reportagem, ele preferiu fazer o espectador entrar numa viagem sensorial dentro de um imaginário delirante e criativo para ter uma ideia do significado artístico e existencial das principais obras daquele período e de seus criadores. Nesse sentido, a citação visual direta de “O encouraçado Potemkin” (2016) não é gratuita, pois o enfoque na montagem, o grande legado de Serguei Eisenstein, é o principal mote criativo no documentário em questão. Praticamente todo o material audiovisual é composto de trechos documentais da época e cenas dos principais trabalhos do Cinema Novo e de obras que influenciaram, foram influenciadas ou simplesmente tiveram alguma sintonia com tais produções cinemanovistas. Eryk Rocha organiza as ideias sobre a sua temática dentro de uma linha teórica delimitada com precisão e sensibilidade, criando dessa forma uma trama sutil e complexa. Há o surgimento explosivo dos filmes, o momento em que os cineastas discutem suas criações e o contexto sócio-cultural que as envolvem, o impacto que os filmes causam no Brasil e no mundo e, por fim, os motivos que levam à implosão do movimento e a dispersão de seus principais diretores. É fascinante a forma com que o documentarista estrutura o seu caleidoscópio narrativo dentro dessa lógica histórica, fazendo com que um mosaico de conceitos, abordagens e discursos diversos e muito pessoais ganhem uma coerência intrínseca na leitura que fazem do Brasil e do cinema do passado, do presente e do futuro.

Um comentário:

Marcelo Castro Moraes disse...

Para mim um dos grandes filmes nacionais do ano