Na filmografia de documentários do cineasta Vladimir
Carvalho se pode perceber a busca por uma síntese narrativa-existencial a
traçar a particular trajetória histórica-cultural do Brasil na exposição de
eventos marcantes ou de figuras de relevo na história do país. Em seu
longa-metragem mais recente, “Cícero Dias, o compadre de Picasso” (2016), o
diretor mantém a sua habitual abordagem artística ao contar a história do
pintor Cícero Dias. A obra não mostra maiores arroubos criativos e dramáticos,
estando longe da força estética e temática de trabalhos antológicos como “Conterrâneos
velhos de guerra” (1990) e “Rock Brasília – A era de ouro” (2011). Ainda assim,
é um documentário acima da média na maneira envolvente e didática com que
consegue conciliar os aspectos intimistas da vida do biografado com o contexto
sócio-político-cultural que o cercava. Em tempos que a iniciativa de
reacionários e fascistas em determinar o fechamento de exposições que desafiam
o moralismo hipócrita e oportunista é vista como algo normal e louvável, é saudável
assistir a uma obra que exalta a sensibilidade e a ousadia de um artista que
buscou em sua atividade criativa transcender o óbvio e as concepções
repressoras daquilo que é considerado “belo”.
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