quinta-feira, outubro 19, 2017

Detroit em rebelião, de Kathryn Bigelow ***

A combinação parecia infalível: a diretora de “Guerra ao terror” (2008) e “A hora mais escura” (2012), obras antológicas na síntese de cinema de ação e realismo dramático, filmando uma revoltante história real envolvendo brutalidade policial durante conflitos raciais na Detroit de 1967. O resultado final de “Detroit em rebelião” (2017), entretanto, fica aquém das altas expectativas. A junção de elementos dos gêneros de thriller e drama de tribunal com alguns elementos de técnicas documentais, além da inserção de registros de arquivos da época, não soa tão orgânica. A diretora Kathryn Bigelow cai em alguns momentos numa encenação de tendências excessivamente melodramáticas e convencionais e mesmo a direção de arte soa um artificialismo estilizado incômodo. Tais ressalvas, entretanto, não implicam necessariamente em um mau filme. Pelo contrário – em suas quase duas horas e meia de duração, a produção consegue apresentar uma narrativa envolvente, ainda que sem maiores arroubos criativos. As longas sequências em que um grupo de policiais sádicos tortura psicológica e fisicamente um grupo de jovens negros num hotel apresentam uma tensão dramática quase palpável em seu detalhismo cênico, na sua atmosfera fatalista e na sua brutalidade gráfica explícita. Vale mencionar ainda a coerência sombria e melancólica da forma com que o roteiro se desenvolve, em que ao invés de se buscar conclusões moralizantes ou conciliadoras, evidencia-se uma visão crua e pessimista sobre a possibilidade de uma convivência racial pacífica nos Estados Unidos.

Um comentário:

Marcelo Castro Moraes disse...

Detroit em Rebelião é um filme que veio na hora certa para nos servir de alerta, pois vivemos numa realidade em que o fantasma do conservadorismo e da intolerância de um passado vem cada vez mais nos assombrando e ameaçando o nosso futuro. https://cinemacemanosluz.blogspot.com.br/2017/10/cine-dica-em-cartaz-detroit-em-rebeliao.html