Parece que aquela síntese entre os gêneros policial e ação
envolvendo uma trama relacionada a grandes roubos e falcatruas afins é a praia
favorita do diretor norte-americano Steven Soderbergh. “Logan Lucky – Roubo em
família” (2017) é a sua mais nova incursão a esse estilo de filme, com uma
estrutura narrativa que remete diretamente à franquia de “Onze homens e um
segredo”, só que com adicional de cenários e personagens remeterem ao universo
de caipiras sulistas. Se os filmes anteriores tinham uma atmosfera irônica e
sequências de caráter cômico, “Logan Lucky” acentua ainda mais o caráter
jocoso, com momentos que beiram a paródia. O roteiro é bem menos lapidado e a
condução da narrativa em certo momentos evidencia uma certa frouxidão. Dá a
impressão de que Soderbergh e elenco estavam mais a afim de se divertir fazendo
o filme do que propriamente interessados em uma produção bem-acabada. Esse
desleixo fica evidente na meia-hora inicial do longa, que cai com frequência na
indulgência e na pura chatice. Mas é quando a trama começa a esboçar os
preparativos para o grande assalto que é o mote principal do roteiro que a obra
diz a que veio. Daí sim podemos sentir a habitual habilidade narrativa de
Soderbergh de transformar clichês formais e temáticos em algo envolvente para o
espectador. A encenação fica bem mais precisa, a montagem apresenta uma
dinâmica sedutora, as atuações do elenco se configuram com mais nuances
dramáticas e cômicas. De bônus, há uma interessante abordagem mista de
sacanagem e carinho com os valores sulistas e uma sensacional trilha sonora
cancioneira. Ou seja, no final das contas Soderbergh não entrega uma obra-prima
na linha de “Irresistível paixão” (1998), mas ainda se mostra capaz de gerar um
trabalho bastante divertido e memorável.
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