Daquela geração/cena de cineastas e roteiristas que
despontaram no final dos anos 60 e se consagraram de vez na década de 1970, a
chamada “Nova Hollywood”, Paul Schrader é o que teve trajetória e estilo mais
singulares. Enquanto seus colegas se dedicaram a estética e narrativa que sintetizavam
a linguagem clássica do cinema norte-americano da primeira metade do século XX e
as inovações artísticas das correntes europeias mais prementes da época,
principalmente a Nouvelle Vague, Schrader enveredou para uma releitura bastante
particular do cerebralismo do Robert Bresson e do minimalismo expressivo de
Yasujiro Ozu. “Mishima – Uma vida em quatro capítulos” (1985) é um exemplar
enfático de tal tendência artística de Schrader. Ao invés de optar pela
convencional cinebiografia estilo “resumão”, o diretor preferiu fazer um
verdadeiro tratado artístico-existencial sobre o polêmico escritor japonês
Yukio Mishima, relacionando alguns eventos marcantes de sua vida com trechos de
suas principais obras, sugerindo uma bela e estranha simbiose entre a “realidade”
do criador e o universo ficcional que criou. O resultado final é desconcertante,
com Schrader conciliando com naturalidade e bizarra coerência um plano
narrativo de seco corte naturalista com sequencias de tinturas entre o onírico
e o alegórico, além de preservar com sensibilidade uma temática complexa em que
homossexualidade, culto ao apolíneo e nacionalismo convivem em uma harmonia
perturbadora.
Nenhum comentário:
Postar um comentário