sexta-feira, outubro 27, 2017

Mishima - Uma vida em quatro capítulos, de Paul Schrader ****

Daquela geração/cena de cineastas e roteiristas que despontaram no final dos anos 60 e se consagraram de vez na década de 1970, a chamada “Nova Hollywood”, Paul Schrader é o que teve trajetória e estilo mais singulares. Enquanto seus colegas se dedicaram a estética e narrativa que sintetizavam a linguagem clássica do cinema norte-americano da primeira metade do século XX e as inovações artísticas das correntes europeias mais prementes da época, principalmente a Nouvelle Vague, Schrader enveredou para uma releitura bastante particular do cerebralismo do Robert Bresson e do minimalismo expressivo de Yasujiro Ozu. “Mishima – Uma vida em quatro capítulos” (1985) é um exemplar enfático de tal tendência artística de Schrader. Ao invés de optar pela convencional cinebiografia estilo “resumão”, o diretor preferiu fazer um verdadeiro tratado artístico-existencial sobre o polêmico escritor japonês Yukio Mishima, relacionando alguns eventos marcantes de sua vida com trechos de suas principais obras, sugerindo uma bela e estranha simbiose entre a “realidade” do criador e o universo ficcional que criou. O resultado final é desconcertante, com Schrader conciliando com naturalidade e bizarra coerência um plano narrativo de seco corte naturalista com sequencias de tinturas entre o onírico e o alegórico, além de preservar com sensibilidade uma temática complexa em que homossexualidade, culto ao apolíneo e nacionalismo convivem em uma harmonia perturbadora.

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