segunda-feira, outubro 02, 2017

Psiconautas - As crianças esquecidas, de Pedro Rivero e Alverto Vásquez ****

Na animação “A crise carnívora” (2007), o diretor espanhol Pedro Rivero investia numa equação narrativa insólita baseada em grafismo sujo, humor negro, violência, escatologia e alegoria política. Voltando ao gênero animação em “Psiconautas – As crianças esquecidas” (2015), Rivero, junto ao quadrinista Alberto Vásquez, refina a estética e a temática de seu trabalho anterior e entrega uma obra memorável. O roteiro combina de maneira natural e poética aventura pós apocalíptica, uma visão sombria sobre a dependência química e simbolismos diversos, sempre sob uma perspectiva humanista e complexa. No desenvolvimento e resolução da trama, não há espaço para o simples maniqueísmo ou moralismo fáceis, havendo uma exposição crua e amarga das hipocrisias e preconceitos típicos da sociedade ocidental contemporânea. Rivero e Vásquez investem num formalismo personalíssimo – ao invés da perfeição realista ou da estilização padrão de boa parte das animações dos grandes estúdios, há a valorização de um traço de bizarra beleza pictórica, repleta de nuances imagéticas plenas de lirismo e sagacidade. Repare-se, por exemplo, na figura do protagonista Birdboy, cuja caracterização visual remete a uma estranha síntese de pássaro e criatura gótica. Aliás, a própria concepção dos personagens do filme reflete as ideias desconcertantes de “Psiconautas”, em que aparentemente “fofinhos” seres antropomorfizados são inseridos em situações e cenários desoladores e sórdidos. No conjunto geral das escolhas artísticas da produção, fica a impressão de um contundente trabalho a evidenciar um mundo se desagregando em meio a um cenário de obscurantismo místico e exploração econômica, reflexo não muito distante de nossa realidade.

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