Pelo menos em termos de blockbusters, o gênero do cinema de
ação contemporâneo, com algumas honrosas exceções, dá a impressão que se
converteu em um grande vídeo game genérico. Coreografias de lutas e perseguições
dependem de recursos óbvios de efeitos digitais e câmeras lentas que por vezes
beiram o estático, por outras se aproximam de vídeos publicitários. O resultado
final de tais obras acaba sendo enfadonho, ainda que o espectador não consiga
dormir devido à barulheira excessiva que predomina em tais narrativas. “De
volta ao jogo” (2014) é uma obra que se coloca na contramão de tal tendência.
Os diretores David Leitch e Chad Stahelski conseguem para o filme uma
convincente síntese entre violência cartunesca e uma certa densidade dramática,
sabendo dosar com precisão sequências brutais e cenas que valorizam diálogos e
uma tensa interação psicológica entre os personagens. Com essa abordagem
artística, de certa forma, até fazem lembrar alguns trabalhos clássicos do
cineasta francês Jean Pierre Melville. A encenação é outro dos grandes trunfos
de “De volta ao jogo” – pode-se perceber tantos nas sequências mais frenéticas
quanto naquelas de caráter reflexivo uma atenção acurada em nuances imagéticas
e na fluidez do movimento cênico. Nesse sentido, até dá para dizer que há algo
de nostálgico nessa visão sobre o cinema de ação, fazendo lembrar alguns longas
marcantes dos anos 80, mas sempre conseguindo evidenciar também um traço
contemporâneo na concepção estético-temática da obra. E é claro que há o mérito
inquestionável de conseguir extrair de um notório canastrão como Keanu Reeves
uma forte e carismática atuação.
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