sexta-feira, outubro 06, 2017

De volta ao jogo, de David Leitch e Chad Stahlski ***1/2

Pelo menos em termos de blockbusters, o gênero do cinema de ação contemporâneo, com algumas honrosas exceções, dá a impressão que se converteu em um grande vídeo game genérico. Coreografias de lutas e perseguições dependem de recursos óbvios de efeitos digitais e câmeras lentas que por vezes beiram o estático, por outras se aproximam de vídeos publicitários. O resultado final de tais obras acaba sendo enfadonho, ainda que o espectador não consiga dormir devido à barulheira excessiva que predomina em tais narrativas. “De volta ao jogo” (2014) é uma obra que se coloca na contramão de tal tendência. Os diretores David Leitch e Chad Stahelski conseguem para o filme uma convincente síntese entre violência cartunesca e uma certa densidade dramática, sabendo dosar com precisão sequências brutais e cenas que valorizam diálogos e uma tensa interação psicológica entre os personagens. Com essa abordagem artística, de certa forma, até fazem lembrar alguns trabalhos clássicos do cineasta francês Jean Pierre Melville. A encenação é outro dos grandes trunfos de “De volta ao jogo” – pode-se perceber tantos nas sequências mais frenéticas quanto naquelas de caráter reflexivo uma atenção acurada em nuances imagéticas e na fluidez do movimento cênico. Nesse sentido, até dá para dizer que há algo de nostálgico nessa visão sobre o cinema de ação, fazendo lembrar alguns longas marcantes dos anos 80, mas sempre conseguindo evidenciar também um traço contemporâneo na concepção estético-temática da obra. E é claro que há o mérito inquestionável de conseguir extrair de um notório canastrão como Keanu Reeves uma forte e carismática atuação.

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