De certa forma, pode-se dizer que a refilmagem de “Desejo de matar”
(2018) é bastante daquilo que se poderia esperar da junção das pessoas e
elementos envolvidos na produção. Há o viés fortemente conservador do roteiro
na defesa do cidadão que se arma e faz justiça com as próprias, o gosto pela
plasticidade brutalista explícita beirando o gore que o diretor Eli Roth tanto
aprecia, a propensão de Bruce Willis para papéis de durão (ele até tenta capengamente
no início dar alguma densidade dramática para o protagonista, mas só engrena
mesmo quando reencarna o John McClane de “Duro de matar”). E é claro que essa
combinação casca-grossa recebe um verniz de “modernidade” em termos narrativos
e estéticos para deixar tudo mais palatável para as plateias contemporâneas. Ou
seja, ao invés da atmosfera e formalismo sóbrios e quase reflexivos do filme
original de 1974, há aquele ritmo frenético e ambientação barulhenta típicos da
escola “Velozes e furiosos”. O real problema dessa nova versão não está
propriamente na tentativa de atualização ou mesmo no caráter ostensivamente
fascista e maniqueísta com que expõe suas convicções e dilemas. O que impede
que a obra atinja um patamar artístico parecido com o clássico de Michael
Winner é simplesmente o fato de que todos os elementos que eram para serem
renovadores ou que pretensamente tinham um viés de insólito ou mesmo original
não são efetivamente desenvolvidos e trabalhados até o fim. Tudo fica pelo meio
do caminho. Tanto que as melhores cenas são aquelas em que Roth faz lembrar o violento
barroquismo gráfico da franquia “O albergue” (ainda o seu grande momento
criativo nas telas). No restante, o novo “Desejo de matar” soa genérico como um
tanto de produções no gênero que aparecem com considerável frequência nos
multiplexes da vida.
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