Há uma diferença fundamental
entre o anacrônico e o clássico? Um filme como “Viagem fantástica” (1966) acaba
suscitando esse tipo de dúvida. Dentro do gênero aventura fantástica, a
produção dirigida por Richard Fleischer se formata por elementos praticamente
em desuso no cenário contemporâneo. O ritmo da narrativa parece quase
contemplativo diante da dinâmica frenética, por exemplo, dos filmes de
super-heróis da Marvel ou da DC, as trucagens baseadas em coloridos cenários e
seres de isopor e afins estão distantes do hiper-realismo dos efeitos digitais
proeminentes nos dias de hoje e a encenação tem um caráter entre o canastrão e
o ingênuo que nada lembra o naturalismo exacerbado daquilo que é considerado “moderno”
pelos lançamentos do mês. No conjunto geral de tais escolhas artísticas,
entretanto, há um considerável grau de encanto sensorial que faz com o
espectador até se sinta dentro de uma espécie de nostálgico delírio onírico.
Por mais que algumas ideias do roteiro e mesmo da concepção visual do filme
possam parecer estapafúrdias, quase infantis, há um toque de elegância e
sobriedade na direção de Fleischer que dá à “Viagem fantástica” uma notável
coerência artística-existencial.
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