A diretora Julia Ducornau busca em “Raw” (2016) uma
aproximação ao terror antropológico repleto de simbologias, mas procurando
aproveitar alguns preceitos narrativos tradicionais do gênero horror. Algumas
ideias do roteiro são interessantes, relacionando o canibalismo da protagonista
Justine (Garance Marillier) com fundamentos atávicos e mesmo a toques de
feminismo. Essa pretensão de crítica à sociedade patriarcal, entretanto, acaba
se diluindo em uma abordagem narrativa e estética marcada por um certo tom “clean”.
Há algumas sequências dominadas por uma interessante plasticidade brutal e
sangrenta. Ou seja, os melhores momentos do filme é quando afunda o pé na jaca
do terror gore. Quando envereda pelo lado do suspense psicológico é que as
coisas descambam – nesse último quesito, faltou uma caracterização de situações
e personagens mais aprofundada e menos superficial em termos de densidade
dramática.
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