A forte mortandade de personagens em “Vingadores: Guerra
infinita” (2018) pode impressionar os neófitos do Universo Marvel nos
quadrinhos. Afinal, nas histórias originais das HQs, alguns dos principais
heróis, vilões e coadjuvantes importantes sucumbirem de forma dramática não
chega a ser algo exatamente raro. Mesmo porque é bastante provável que algumas
edições depois de tais “mortes” as mesmas figuras apareçam ressuscitadas mediante
explicações estapafúrdias. Então, é quase certo que na continuação a ser
lançada em 2019 todo mundo que morreu reapareça vivinho sem maiores
consequências. Isso, entretanto, retira os méritos dessa obra mais recente dos estúdios
Marvel? A resposta é não. E até pelo contrário. Talvez o mais fascinante nesse
filme dirigido pelos irmãos Russo esteja na capacidade de envolver o espectador
em sua narrativa frenética mesmo que abuse de certo clichês temáticos e
formais. O fato de ter de conciliar várias tramas paralelas na mesma narrativa
por vezes torna o ritmo dessa um tanto irregular, além do roteiro ser
claudicante em qualquer cena que envolva uma atmosfera, digamos, mais intimista
(com exceção para a dinâmica que se estabelece entre Thanos e Zamora). Tirando
tais deslizes compreensíveis, afinal se trata de um blockbuster que obedece a
uma fórmula criativa bem delimitada pelo estúdio e até pelo mercado consumidor,
“Vingadores: Guerra infinita” consegue reproduzir com fidelidade e convicção
boa parte dos encantos que as sagas espaciais dos Vingadores traziam em alguns
de seus maiores clássicos (incluindo aí também algumas histórias escritas pelo
mestre Jim Starlin para Capitão Marvel, Warlock e Thanos). A combinação entre
aventura épica e tiradas humorísticas é bem dosada, gerando algumas sequências
de ação memoráveis (nesse sentido, destaque absoluto para as cenas protagonizadas
pela trinca Thor, Rocket Raccoon e Groot). E Thanos (Josh Brolin) tem uma
caracterização impressionante em termos imagéticos e de densidade psicológica,
disparado o melhor vilão no universo fílmico da Marvel. Para quem tinha se
decepcionado com o brochante “Era de Ultron” (2015), “Guerra infinita”
representa uma bela retomada criativa para a franquia e dá um considerável
gostinho de quero mais para a continuação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário