A temática relativa ao maio de 1968 é um ponto em comum
entre os documentários “Morrer aos trinta anos” (1982) e “No intenso agora”
(2017). Tanto que esse último cita explicitamente em imagens o primeiro. Mas há
fortes diferenças existenciais e artísticas entre tais produções. Se na brilhante
obra brasileira dirigida por João Moreira Salles a narrativa se baseia
exclusivamente em imagens de arquivo filmadas por terceiro e apresenta um olhar
desencantado e subtexto sutilmente conservador, no filme francês dirigido por
Romain Goupil o enfoque é praticamente o oposto – grande parte do que é
mostrando em termos de imagens vem de filmagens próprias de Goupil e sua visão pessoal
sobre os eventos tem expressivos traços melancólicos, mas sem perder uma certa
verve de entusiasmo e carinho por todos aqueles fatos nos quais teve uma
participação direta. E aí está justamente um dos grandes pontos de fascínio em
seu longa-metragem, em que o intimismo e a ambientação sócio-política parecem
se entrelaçar como se fosse uma coisa só. A dinâmica dos fatos mostrados em
tela não tem apenas o caráter histórico de situações que estão congelados hoje
em dia no tempo e no espaço para estudos. Na concepção de Goupil toda aquela
engrenagem ainda está em movimento, ou melhor, já estava em franco
desenvolvimento antes mesmo do maio de 1968. Assim, “Morrer aos trinta anos”
não é um simples relato histórico. Também é a expressão, mista de emotividade e
racionalismo, de uma série de sentimentos, desejos, utopias e frustrações,
elementos esses que se configuram intensamente na trajetória pessoal de Michel
Recanati, o real protagonista do documentário, agente ativo do maio de 68 e
seus desdobramentos ao longo dos anos e que teve um fim precoce ao cometer
suicídio. Na obra-prima de Goupil, não cabe explicações prontas para as
atitudes de Recanati e seus companheiros ou precisos julgamentos morais para os
fatos mostrados na tela. No final das contas, o que resta para o imaginário do
espectador é o fascínio e o mistério diante de personagens que desafiaram um
ordenamento sócio-político marcado pela opressão e pragmatismo desumanos.
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