Os primeiros filmes do diretor capixaba Rodrigo Aragão são marcados por
uma certa precariedade de recursos de produção, típicos de produções
independentes. Isso não quer dizer, entretanto, que tais trabalhos caíram no
amadorismo trash. Muito pelo contrário. Aragão demonstrou em filmes antológicos
como “Mangue negro” (2008) e “A noite do chupa-cabra” (2011) um considerável
domínio narrativo e fortes traços autorais em determinados elementos estéticos
e temáticos. O formalismo oscila de forma desconcertante entre o sórdido e sujo
até um requinte plástico que beira o barroquismo. Tentando resumir, é algo como
se aquele Peter Jackson em seus filmes iniciais de horror, naquela síntese enlouquecida
de humor negro e grafismo escatológico, tivesse surgido dentro de um contexto
regionalista do Espírito Santo. Nessa estranha fórmula artística, sobressaem-se
detalhes como a trilha sonora que combina temas incidentais tradicionais com marcantes
melodias e ritmos folclóricos, as atuações intensas de boa parte do elenco, os
efeitos especiais artesanais de sensorialismo imagético desconcertante e as
insanas e escrotas atmosferas de tensão sobrenatural. Todas essas qualidades se
mostram ainda indeléveis em “A mata negra” (2018), primeiro longa-metragem de Aragão
que contou com um orçamento bem mais generoso originário de uma lei de
incentivo. É claro que os efeitos digitais dão uma cara mais palatável para o
filme, mas o que fica na memória mesmo do espectador é a forma com que elementos
convencionais do gênero horror são apresentados sem que caiam na caricatura e
na mesmice. Em uma trama envolvendo magia negra, satanismo e sordidez humana, “A
mata negra” se configura como um trabalho de momentos efetivamente assustadores
e que não cai na assepsia previsível daquelas franquias de terror que grassam
nos multiplexes da vida. Seus momentos cômicos não são apenas um alívio cênico
diante de jorro de sangue e negativismo que brotam constantemente da tela – na verdade,
acentuam ainda mais o caráter perturbador do filme. E mesmo o gancho para uma
possível continuação que aparece na conclusão da história se mostra mais como
um desdobramento natural do que simples oportunismo mercadológico.
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