Para o documentário “Todos
os paulos do mundo” (2018) há um ponto primordial a ser expor em sua narrativa:
a de mostrar a trajetória do ator Paulo José como homem de cinema. Sua fase
inicial no teatro, de relevante papel histórico e existencial na sua formação
dramática, é evidenciada como um preparativo para aquilo que desenvolveria em
sua plenitude na grande tela. Seus trabalhos na televisão dão a impressão de
uma circunstância profissional necessária em períodos que o cinema nacional se
encontrava em dificuldades. Mesmo a vida pessoal não chega a ser detalhada de
maneira minuciosa, limitando-se com sensibilidade a oferecer pequenos e
expressivos recortes sobre romances, amizades e outros tipos de afetos. Em
termos formais e narrativos, os diretores Gustavo Ribeiro e Rodrigo Oliveira
usam recursos simples e eficazes, juntando uma ágil edição a expor trechos
antológicos de alguns dos principais filmes em que Paulo José atuou, sem se
apegar a um sentido linear cronológico, com textos de impressões e reminiscências
pessoais escritas pelo próprio ator e narrados por ele e convidados. Esse
conjunto estético-temático acaba construindo um contundente panorama não
somente da vida de seu protagonista como do próprio cinema nacional e de seus
principais realizadores nos últimos 50 anos, indo de obras-primas de Domingos
de Oliveira e Joaquim Pedro de Andrade, passando por produções expressivas de
Luís Sérgio Person e Murilo Salles, abarcando mesmo a retomada dos trabalhos
nativos na década de 90 e chegando a filmes nacionais desse século. Por vezes
essa fórmula narrativa chegar a soar cansativa e acomodada, caindo até para um
certo sentimentalismo excessivo, mas ainda assim “Todos os paulos do mundo”
consegue oferecer um retrato fiel e entusiasmado de um artista inquieto e
também de algumas das principais realizações culturais brasileiras nas últimas
décadas.
Boa parte de amigos e conhecidos costuma dizer que as minhas recomendações para filmes funcionam ao contrário: quando eu digo que o filme é bom é porque na realidade ele é uma bomba, e vice-versa. Aí a explicação para o nome do blog... A minha intenção nesse espaço é falar sobre qualquer tipo de filme: bons e ruins, novos ou antigos, blockbusters ou obscuridades. Cotações: 0 a 4 estrelas.
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Um comentário:
Todos os Paulos do Mundo é um delicioso documentário para ser visto e revisto, onde não só testemunhamos o trabalho de um grande talento, como também de um tempo melhor e mais corajoso do nosso cinema brasileiro. https://cinemacemanosluz.blogspot.com.br/2018/05/cine-dica-em-cartaz-todos-os-paulos-do.html
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