Com uma certe frequência tem aparecido nos últimos anos
produções que se apresentam como faroestes contemporâneos, em que a estrutura
narrativa se formata como uma releitura das principais características formais
e temáticas do gênero, mas com tramas situadas em um plano temporal mais
contemporâneo. Se algumas dessas obras utilizam essa abordagem por questões
mais estéticas, vide o sensacional “Rejeitados pelo diabo” (2005), em “A
qualquer custo” (2016) a aproximação com o western vem também por inquietantes
razões sócio-políticas e existenciais. Nesse sentido, é de se reparar na forma
em que os cenários interioranos do Texas são mostrados na tela – os grandes
planos da direção de fotografia remetem a clássicos trabalhos de John Ford e
Howard Hawks pela grandiosidade e beleza melancólica, mas também situam a
conturbada situação econômica de grande parte da população norte-americana,
mostrando fazendas em situação precárias e pequenas cidades de comércio
arruinado e bancos prosperando. De certa forma, alguns faroestes crepusculares
já apresentavam esse quadro em que por trás dos conflitos entre “mocinhos e
bandidos” havia os interesses de instituições financeiras, corporações
empresariais e grandes latifundiários em jogo. Um dos aspectos mais
perturbadores do filme dirigido por David Mackenzie é justamente retratar com amarga
ironia como certas coisas permanecem as mesmas na sociedade ocidental. A
sutileza de tal subtexto de “A qualquer custo” vem acompanhada por uma
reconstrução primorosa dos preceitos narrativos do faroeste. O delineamento de
situações e personagens é feito de maneira serena e com profundidade
psicológica, sem maniqueísmos e demais moralismos fáceis, fazendo com que a
tensão fique cada vez mais palpável. No terço final, quando a ação fica mais
intensa e gráfica, as explosões de violência têm considerável impacto dramático
e se mostram coerentes com os dilemas cruciais da trama. As antológicas
atuações de Jeff Bridges e Bem Foster e o os climáticos temas compostos por
Nick Cave e Warren Ellis para a trilha sonora, aliados a ótimas canções
country, pontuam com sensibilidade a narrativa de talhe clássico concebida por
Mackenzie.
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